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CARLOS HEITOR CONY
"Olhai para isto"
RIO DE JANEIRO - Não sei se
ainda existe a expressão "Cristo,
olhai para isto". Antigamente havia
e era usada sempre que acontecia
alguma coisa de extraordinário.
Chamava-se a atenção do filho de
Deus para tudo o que parecia impossível de acontecer e assim mesmo acontecia.
Pessoalmente, usei pouco a expressão, pois raramente me admirava das coisas que iam se sucedendo comigo ou com o mundo. Mas
acho que ainda há tempo para isto,
pedindo a Cristo que olhe para isto.
O "isto" em questão é a série de coisas assombrosas que estão acontecendo umas em cima das outras.
Terremotos devastadores no
Haiti, Chile e agora na China, inundações assassinas no Rio, Niterói e
Bahia, um vulcão na Islândia fazendo parar o tráfego aéreo na Inglaterra, um psicopata solto indevidamente e que mata seis jovens a pauladas depois de estuprá-los -o espaço seria pequeno para arrolar tudo e tanto.
Para complicar, picharam o próprio Cristo aqui no Rio. Aproveitando os andaimes de um serviço de
conservação da estátua, aqueles
que a imprensa chama de "vândalos" subiram até a cabeça que é realmente a parte mais bonita do monumento. Deixaram lá suas grifes
cabalísticas.
O Redentor não reagiu. Poderia
com um ato de sua vontade punir
seus agressores, vomitando-os para
o abismo do Corcovado. Mas tal como em sua vida terrena, Cristo aceitou sem reagir ao açoite dos soldados romanos e à coroa de espinhos,
desta vez feita de piche.
Continuou impassível, braços
abertos sobre a Guanabara como
cantou Tom e Vinicius no samba do
avião. Viu coisas desta vez, centenas
de mortos das inundações, milhares de desabrigados. Olhou para isto e não reagiu, mas recebeu um
protesto que embora imerecido,
tem lá o seu sentido.
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