São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O risco do risco

BRUXELAS - Uma das grandes miçangas da era moderna é o tal risco-país, acoplado, às vezes, ao julgamento que agências de avaliação do risco fazem sobre o país.
A capa de ontem desta Folha, por exemplo, dizia que "a melhoria da avaliação da dívida brasileira feita pela agência Standard & Poor's fez o risco-país cair para 148 pontos, o mais baixo da história".
Nada contra, desde que não se tome essa avaliação ou qualquer outra do mercado financeiro como as tábuas da lei. Basta ler, a propósito, análise de página inteira do jornal britânico "Financial Times", que não é propriamente o jornal do PSOL ou um admirador do presidente Hugo Chávez.
Mas está lá um alerta bem claro sobre o que o jornal chama de "sumos sacerdotes das finanças". Uma nota ruim dada pelas agências de avaliação de risco pode até "atirar países na recessão ou companhias na bancarrota".
Para entender melhor o jogo, eis o resumo de como a coisa funciona: "No mundo moderno, hipotecas, empréstimos para comprar carro, títulos corporativos e muitos outros tipos de débito são empacotados e re-empacotados por bancos de investimento e vendidos para todo o tipo de investidores. (...) A chave para um negócio bem-sucedido é assegurar uma avaliação de risco correta".
O risco representado pelos avaliadores de risco é, em primeiro lugar, o "potencial conflito de interesses", uma vez que são os bancos de investimento, não os investidores, que pagam pelas avaliações. Mais ou menos como um partido encomendar pesquisa eleitoral e seu resultado ser tido como bíblia.
Segundo problema: "As agências [de rating] podem confundir-se ante a complexidade dos negócios que são chamadas a avaliar e não estão equipadas para manter-se atualizadas em relação à criatividade e aos recursos do mundo da banca".
Em tal mundo, não há oráculos, há grandes interesses.


crossi@uol.com.br

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