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CLÓVIS ROSSI
O risco do risco
BRUXELAS - Uma das grandes
miçangas da era moderna é o tal risco-país, acoplado, às vezes, ao julgamento que agências de avaliação do
risco fazem sobre o país.
A capa de ontem desta Folha, por
exemplo, dizia que "a melhoria da
avaliação da dívida brasileira feita
pela agência Standard & Poor's fez
o risco-país cair para 148 pontos, o
mais baixo da história".
Nada contra, desde que não se tome essa avaliação ou qualquer outra do mercado financeiro como as
tábuas da lei. Basta ler, a propósito,
análise de página inteira do jornal
britânico "Financial Times", que
não é propriamente o jornal do
PSOL ou um admirador do presidente Hugo Chávez.
Mas está lá um alerta bem claro
sobre o que o jornal chama de "sumos sacerdotes das finanças". Uma
nota ruim dada pelas agências de
avaliação de risco pode até "atirar
países na recessão ou companhias
na bancarrota".
Para entender melhor o jogo, eis
o resumo de como a coisa funciona:
"No mundo moderno, hipotecas,
empréstimos para comprar carro,
títulos corporativos e muitos outros tipos de débito são empacotados e re-empacotados por bancos
de investimento e vendidos para
todo o tipo de investidores. (...) A
chave para um negócio bem-sucedido é assegurar uma avaliação de
risco correta".
O risco representado pelos avaliadores de risco é, em primeiro lugar, o "potencial conflito de interesses", uma vez que são os bancos
de investimento, não os investidores, que pagam pelas avaliações.
Mais ou menos como um partido
encomendar pesquisa eleitoral e
seu resultado ser tido como bíblia.
Segundo problema: "As agências
[de rating] podem confundir-se ante a complexidade dos negócios que
são chamadas a avaliar e não estão
equipadas para manter-se atualizadas em relação à criatividade e aos
recursos do mundo da banca".
Em tal mundo, não há oráculos,
há grandes interesses.
crossi@uol.com.br
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