São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2010

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Editoriais

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Bomba demográfica

O ECONOMISTA Fabio Giambiagi, há quase 20 anos um defensor de mudanças nas regras da Previdência Social no Brasil, não ignora os motivos de resistência ao seu receituário de equilíbrio contábil.
São grandes os custos políticos imediatos de qualquer ajuste, ressaltou em entrevista publicada ontem por esta Folha. Os benefícios de maior parcimônia nos gastos previdenciários, por sua vez, "são de longo prazo e, em geral, pouco palpáveis". Daí que sejam frágeis os incentivos para o abandono de rotinas perniciosas do presente.
A miopia quanto ao futuro, a que se refere o economista, é geralmente agravada em momentos de relativa abundância, como o que se vive hoje na economia brasileira. Quanto a isso, foi exemplar, pela irresponsabilidade, o comportamento da Câmara dos Deputados ao aprovar o fim do fator previdenciário, que inibe aposentadorias precoces, e conferir um reajuste de 7,7% aos pensionistas que ganham acima do mínimo.
O presidente Lula promete vetar as exageradas benesses, caso o Senado venha a confirmá-las. Tais medidas representariam encargos adicionais a um sistema previdenciário já estruturalmente desequilibrado.
Em duas décadas, os gastos com a Previdência em relação ao PIB mais que dobraram. A despesa, proporcionalmente ao produto, já se assemelha àquelas de Reino Unido e Espanha -que contam com parcela maior de idosos na população.
Em poucas décadas, o perfil demográfico do Brasil se assemelhará ao de nações europeias, sem que no entanto o país tenha alcançado um nível de renda capaz de comportá-lo.
Não deixa de ser uma ironia que os próprios gastos atuais com aposentadorias e pensões impeçam a ampliação dos investimentos necessários para sustentar os idosos do futuro.


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