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Bomba demográfica
O ECONOMISTA Fabio Giambiagi, há quase 20 anos
um defensor de mudanças nas regras da Previdência Social no Brasil, não ignora os motivos de resistência ao seu receituário de equilíbrio contábil.
São grandes os custos políticos
imediatos de qualquer ajuste,
ressaltou em entrevista publicada ontem por esta Folha. Os benefícios de maior parcimônia
nos gastos previdenciários, por
sua vez, "são de longo prazo e,
em geral, pouco palpáveis". Daí
que sejam frágeis os incentivos
para o abandono de rotinas perniciosas do presente.
A miopia quanto ao futuro, a
que se refere o economista, é geralmente agravada em momentos de relativa abundância, como
o que se vive hoje na economia
brasileira. Quanto a isso, foi
exemplar, pela irresponsabilidade, o comportamento da Câmara
dos Deputados ao aprovar o fim
do fator previdenciário, que inibe aposentadorias precoces, e
conferir um reajuste de 7,7% aos
pensionistas que ganham acima
do mínimo.
O presidente Lula promete vetar as exageradas benesses, caso
o Senado venha a confirmá-las.
Tais medidas representariam
encargos adicionais a um sistema previdenciário já estruturalmente desequilibrado.
Em duas décadas, os gastos
com a Previdência em relação ao
PIB mais que dobraram. A despesa, proporcionalmente ao produto, já se assemelha àquelas de
Reino Unido e Espanha -que
contam com parcela maior de
idosos na população.
Em poucas décadas, o perfil
demográfico do Brasil se assemelhará ao de nações europeias,
sem que no entanto o país tenha
alcançado um nível de renda capaz de comportá-lo.
Não deixa de ser uma ironia
que os próprios gastos atuais
com aposentadorias e pensões
impeçam a ampliação dos investimentos necessários para sustentar os idosos do futuro.
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