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Freada nos EUA
Não se sabe em que grau a desaceleração em curso na mais importante economia do planeta vai afetar os demais países
UM DOS itens que hoje
em dia mais concentram as preocupações
dos economistas é o
déficit em conta corrente dos Estados Unidos. Essa cifra, que indica quanto o país precisa tomar
emprestado do mundo para fechar suas contas, saltou de US$
388,9 bilhões (3,8% do PIB), em
2001, para US$ 791,5 bilhões em
2005 (6,3% do PIB). Nos primeiros quatro meses de 2006, apenas o desbalanço entre o que o
país exporta e o que importa alcançou US$ 259,5 bilhões.
O pagamento dessas importações resulta em acumulação de
reservas internacionais nos países superavitários (mais concentrados na Ásia). Esses saldos, em
boa medida, são aplicados em títulos do Tesouro americano,
permitindo que os EUA sustentem taxas elevadas de crescimento e, com suas compras externas, mantenham aquecida
também a atividade global.
O presidente do Fed (o banco
central dos EUA), Ben Bernanke,
tem emitido sinais inequívocos
de estar preocupado com a inflação em seu país, o que deve redundar, em breve, em uma nova
alta na sua taxa básica de juros.
Seguindo os passos do Fed, os
principais bancos centrais do
planeta vêm aumentando suas
taxas de juros de curto prazo.
Com isso, as cotações dos ativos financeiros -ações, commodities, moedas e títulos de dívida
soberana e de empresas de países emergentes- sofreram quedas acentuadas. Já há sinais de
que esse processo começa a alcançar o mercado imobiliário.
A economia americana -que
cresceu a um ritmo anualizado
de 5,3% no primeiro trimestre de
2006- passou a emitir sinais de
desaceleração. As estimativas
sugerem um crescimento entre
2% e 3% neste segundo trimestre. A incógnita é em que medida
essa perda de dinamismo na economia americana vai repercutir
em escala global.
Um reaquecimento da demanda interna em nações como China, Índia, Japão e Coréia do Sul,
bem como na zona do euro, pode
matizar os efeitos da desaceleração nos EUA. Ainda assim, o
principal risco embutido nesse
processo de ajuste, a partir da
maior economia do planeta, continua a ser o de ampliar perigosamente a aversão ao risco em âmbito global, afetando os chamados "animal spirits", a disposição
das empresas de investir para
ampliar a sua produção.
Espera-se que a desaceleração
orquestrada pelo Fed possa reverter um pouco a escalada preocupante dos principais desequilíbrios globais. Atuará nesse sentido se favorecer a diminuição do
déficit externo dos Estados Unidos, à custa do superávit dos
asiáticos e dos exportadores de
petróleo -bem como se amainar
o grau de alavancagem das transações financeiras. Mas dificilmente logrará corrigir as fontes
estruturais de turbulência.
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