São Paulo, domingo, 18 de junho de 2006

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Freada nos EUA

Não se sabe em que grau a desaceleração em curso na mais importante economia do planeta vai afetar os demais países

UM DOS itens que hoje em dia mais concentram as preocupações dos economistas é o déficit em conta corrente dos Estados Unidos. Essa cifra, que indica quanto o país precisa tomar emprestado do mundo para fechar suas contas, saltou de US$ 388,9 bilhões (3,8% do PIB), em 2001, para US$ 791,5 bilhões em 2005 (6,3% do PIB). Nos primeiros quatro meses de 2006, apenas o desbalanço entre o que o país exporta e o que importa alcançou US$ 259,5 bilhões.
O pagamento dessas importações resulta em acumulação de reservas internacionais nos países superavitários (mais concentrados na Ásia). Esses saldos, em boa medida, são aplicados em títulos do Tesouro americano, permitindo que os EUA sustentem taxas elevadas de crescimento e, com suas compras externas, mantenham aquecida também a atividade global.
O presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, tem emitido sinais inequívocos de estar preocupado com a inflação em seu país, o que deve redundar, em breve, em uma nova alta na sua taxa básica de juros. Seguindo os passos do Fed, os principais bancos centrais do planeta vêm aumentando suas taxas de juros de curto prazo.
Com isso, as cotações dos ativos financeiros -ações, commodities, moedas e títulos de dívida soberana e de empresas de países emergentes- sofreram quedas acentuadas. Já há sinais de que esse processo começa a alcançar o mercado imobiliário.
A economia americana -que cresceu a um ritmo anualizado de 5,3% no primeiro trimestre de 2006- passou a emitir sinais de desaceleração. As estimativas sugerem um crescimento entre 2% e 3% neste segundo trimestre. A incógnita é em que medida essa perda de dinamismo na economia americana vai repercutir em escala global.
Um reaquecimento da demanda interna em nações como China, Índia, Japão e Coréia do Sul, bem como na zona do euro, pode matizar os efeitos da desaceleração nos EUA. Ainda assim, o principal risco embutido nesse processo de ajuste, a partir da maior economia do planeta, continua a ser o de ampliar perigosamente a aversão ao risco em âmbito global, afetando os chamados "animal spirits", a disposição das empresas de investir para ampliar a sua produção.
Espera-se que a desaceleração orquestrada pelo Fed possa reverter um pouco a escalada preocupante dos principais desequilíbrios globais. Atuará nesse sentido se favorecer a diminuição do déficit externo dos Estados Unidos, à custa do superávit dos asiáticos e dos exportadores de petróleo -bem como se amainar o grau de alavancagem das transações financeiras. Mas dificilmente logrará corrigir as fontes estruturais de turbulência.


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