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Jogada suspeita
Veto ao Morumbi abre a perspectiva de despesas públicas com a construção de novo estádio, algo que São Paulo não pode aceitar
Em cartas enviadas à Folha, leitores sintetizam o sentimento que
se disseminou pela cidade de São
Paulo depois de anunciado o veto
da Fifa à reforma do estádio do
Morumbi, candidato a palco de
abertura da Copa de 2014.
"Era exatamente isto o que todos ("eles") queriam: farra com o
dinheiro público", opinou um
missivista, apreensivo com a possibilidade de a conta do torneio
ser paga pelo contribuinte.
Com uma nota de indignação,
outro leitor propôs: "Os paulistas,
especialmente os paulistanos, devem aproveitar a proibição do Morumbi e comunicar que São Paulo
está fora da competição -e de sua
despesa também".
É impossível não ver na exclusão do estádio do São Paulo F. C.
um golpe para desembaraçar a
construção de uma nova arena.
Ela surgiria em Pirituba, na zona
norte da cidade, a um custo estimado em cerca de R$ 1 bilhão.
Especula-se que a arena multiuso poderia posteriormente ser
transferida ao Corinthians, cujo
presidente foi escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol
(CBF) para chefiar a delegação
brasileira na África do Sul.
Em que pesem as declarações
em contrário de autoridades municipais, estaduais e federais, são
justificáveis os temores quanto ao
uso de recursos públicos para o
empreendimento -que parece
atender a poderosos interesses.
Conforme relato da jornalista
Renata Lo Prete, ontem, no "Painel", o presidente da CBF, Ricardo
Teixeira, que enfrenta a oposição
da cúpula do São Paulo, encontrou-se recentemente, em sua fazenda, com o prefeito paulistano
Gilberto Kassab.
O alcaide, embora tenha defendido em público o Morumbi, parece ter agido nos bastidores em favor do novo estádio, parte de um
complexo que também prevê um
grande centro de convenções.
Torcedor são-paulino, Kassab
declarou-se impedido de defender
o veto, mas disse que se surgissem
"meios técnicos" para fazê-lo, iria
"em frente". Conhecido o peso da
CBF na Fifa, os "meios técnicos"
seriam fáceis de encenar, embora
difíceis de convencer.
Ao banir o Morumbi, a entidade
máxima do futebol não deixou dúvida sobre o caráter "político" de
sua decisão. Desde o início, aliás,
demonstrou má vontade com o
campo do São Paulo, um dos três
estádios particulares previstos para o evento (restam agora a Arena
da Baixada, em Curitiba, e o Beira-Rio, em Porto Alegre). Flexível em
outros casos, a Fifa, nas questões
relativas ao Morumbi, assumiu
atitude inusual em matéria de rigor e intransigência.
Repórteres que participam da
cobertura da Copa na África do Sul
testemunham que arenas com defeitos semelhantes passaram por
reformas menos profundas do que
as exigidas do estádio paulistano
-e foram aprovadas.
Patrocinar a inauguração da
Copa pode trazer benefícios à cidade de São Paulo, em especial na
melhoria de sua infraestrutura urbana. Mas gastar dinheiro público
com uma nova arena é algo fora de
questão. Como sugeriu o leitor, se
for esse o requisito, melhor declinar da honraria.
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