São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Quando Valério vai à Daslu

SÃO PAULO - A série de episódios degradantes da vida pública e empresarial culminou na semana passada com a disseminação da teoria do "todo mundo faz". "Todo político tem caixa dois". "Todo empresário sonega". Próceres do mundo da política e da empresa prestaram homenagem ao sistema de máfias.
Viu-se como é vasta a cínica conivência com a farsa institucional que é o país, embora tanta gente se vire para viver honestamente em meio à canalha. Pefelês da gema, petistas e tucanos "éticos", Fiesps, tantos elogios à "gente que faz" (caixa dois, fraude fiscal). Isto é, gente que alimenta, quando não comete, crimes ainda piores do que a "mera" sonegaçãozinha ou caixinha política.
Essa "gente que faz" provoca desordem de instituições como mercado e república. A sonegação, assim como cartéis, dumping e violação de direitos do trabalho, solapa a competição capitalista, base da utilidade do sistema de mercado: a busca da eficiência econômica, que é o que produz melhorias no padrão de vida.
O caixa dois, por sua vez, é a base da pirâmide de apropriação indébita de bens públicos. Tem origem na corrupção do mercado (pois é dinheiro sem registro), pressupõe o retorno do favor, em forma de saque da república, o que de resto desvirtua a ação dos partidos e induz a captura de instituições públicas por interesses privados (ademais da pior espécie).
Sonegação não é vício pequeno. É crime organizado, da qual participam grandes empresas, consultorias, advogados, como têm mostrado reportagens de Claudia Rolli e Fátima Fernandes nesta Folha: um esquema 200 vezes maior que o da Daslu, 50 vezes maior que o do Valério-PT, em que empresonas fingem exportar soja e açúcar (sem lidar com o produto) a fim de sonegar imposto.
A sonegação é um sistema. Alimenta outros sistemas, como o de lavagem de dinheiro, centro operacional e financeiro do narcotráfico, do contrabando e de quadrilhas conexas, além de prestador de serviço para corruptores diretos do Estado e para o financiamento da canalha política.
 
Férias: este colunista vai fazer as malas (de roupas) e fingir por um mês que o Brasil não existe.

Texto Anterior: Editoriais: CIDADE-ESCOLA

Próximo Texto: Brasília - Igor Gielow: O alcance da "purificação"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.