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VINICIUS TORRES FREIRE
Quando Valério vai à Daslu
SÃO PAULO - A série de episódios degradantes da vida pública e empresarial culminou na semana passada
com a disseminação da teoria do "todo mundo faz". "Todo político tem
caixa dois". "Todo empresário sonega". Próceres do mundo da política e
da empresa prestaram homenagem
ao sistema de máfias.
Viu-se como é vasta a cínica conivência com a farsa institucional que é
o país, embora tanta gente se vire para viver honestamente em meio à canalha. Pefelês da gema, petistas e tucanos "éticos", Fiesps, tantos elogios à
"gente que faz" (caixa dois, fraude
fiscal). Isto é, gente que alimenta,
quando não comete, crimes ainda
piores do que a "mera" sonegaçãozinha ou caixinha política.
Essa "gente que faz" provoca desordem de instituições como mercado e
república. A sonegação, assim como
cartéis, dumping e violação de direitos do trabalho, solapa a competição
capitalista, base da utilidade do sistema de mercado: a busca da eficiência
econômica, que é o que produz melhorias no padrão de vida.
O caixa dois, por sua vez, é a base
da pirâmide de apropriação indébita
de bens públicos. Tem origem na corrupção do mercado (pois é dinheiro
sem registro), pressupõe o retorno do
favor, em forma de saque da república, o que de resto desvirtua a ação
dos partidos e induz a captura de instituições públicas por interesses privados (ademais da pior espécie).
Sonegação não é vício pequeno. É
crime organizado, da qual participam grandes empresas, consultorias,
advogados, como têm mostrado reportagens de Claudia Rolli e Fátima
Fernandes nesta Folha: um esquema
200 vezes maior que o da Daslu, 50
vezes maior que o do Valério-PT, em
que empresonas fingem exportar soja
e açúcar (sem lidar com o produto) a
fim de sonegar imposto.
A sonegação é um sistema. Alimenta outros sistemas, como o de lavagem de dinheiro, centro operacional
e financeiro do narcotráfico, do contrabando e de quadrilhas conexas,
além de prestador de serviço para
corruptores diretos do Estado e para
o financiamento da canalha política.
Férias: este colunista vai fazer as
malas (de roupas) e fingir por um
mês que o Brasil não existe.
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