|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
IGOR GIELOW
O alcance da "purificação"
BRASÍLIA - O cerco se fecha. Depois de uma semana quase inacreditável
na coleção de fatos insólitos (começou com dólares na cueca, passou por
reais em malas e batida em loja de
madame para acabar num clone imperfeito da famigerada Operação
Uruguai), podemos esperar por mais
emoções a partir de hoje.
A fábula de meias-verdades contada por Delúbio Soares e Marcos Valério não funcionou para delimitar o
escândalo a poucos personagens e a
crimes superáveis -além de oferecer
aos eventuais enrolados no campo
adversário uma saída conjunta.
A trama que vai sendo desenrolada
a partir da análise do papelório que
está chegado aos técnicos da CPI dos
Correios vai demonstrando ligações
intrincadas de interesses privados e
partidários com o cheiro de dinheiro
público permeando o processo.
E não se fala aqui dos arroubos da
ala irresponsável da CPI, que vem
atuando com conivência e apoio de
setores preguiçosos da imprensa,
adeptos do caminho suave da reprodução denuncista sem checagem.
Há vários fios pedindo para serem
puxados. O fato de uma das empresas ligadas a Valério ter usado um
contrato com os Correios para garantir um empréstimo que foi parar na
mão de Delúbio pode não provar nada em si, mas indica que não havia
compartimentos estanques no mundo de relações sob investigação.
Várias perguntas têm de ser respondidas. Por exemplo: os bancos cobraram os empréstimos? Não é ilegítimo
nem leviano perguntar se eles levaram alguma vantagem por dar dinheiro ao partido no poder, e as senhas "crédito consignado" e "CPI do
Banestado" já estão na praça. Isso fora as centenas de milhões de reais que
apareceram sem origem identificada
nas contas ligadas a Valério. De onde
vieram, para onde foram?
A gravidade do que virá à luz determinará a resposta da pergunta final:
se o presidente Lula continuará como
inocente útil para aliados e opositores, ou se entrará no dança do processo "purificador" previsto por Luiz
Gushiken.
Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Quando Valério vai à Daslu Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: A crise é Lula Índice
|