|
Próximo Texto | Índice
A porta de saída
Bolsa-Família tem caráter assistencial; apenas a expansão do mercado de trabalho pode emancipar os seus beneficiários
"A META é emancipar o maior número possível de
famílias, mas temos de levar em conta que vivemos num mundo de desemprego
estrutural." Assim o ministro do
Desenvolvimento Social, Patrus
Ananias, reagiu ao fato de que o
número de beneficiários do Bolsa-Família que se desligou do
programa -atestando a possível
conquista de uma fonte de renda
autônoma- é desprezível.
Desde o início do projeto, em
outubro de 2003, houve 2.099
casos (0,37% das pessoas diretamente atendidas) de devolução
do cartão do benefício. Fatia significativa dos que desistiram não
foi para o mercado de trabalho,
apenas trocou um programa de
assistência social por outro.
São precipitadas as críticas que
atribuem ao programa federal de
renda mínima um "efeito-esmola". De acordo com essa argumentação, a oferta de dinheiro
regular pelo governo criaria no
beneficiário uma dependência
da ajuda pública, inibindo a busca de ocupações no mercado de
trabalho. Por mais verossímil
que, intuitivamente, a hipótese
possa parecer, ela precisaria ser
verificada na prática por pesquisadores ao longo dos anos. O Bolsa-Família, porém, é muito recente para permitir uma avaliação mais precisa nesse quesito.
Legítimos são, por seu turno,
os reclamos -que quase sempre
embasam os que criticam o Bolsa-Família pela linha do "efeito-esmola"- de que o desenvolvimento econômico do país, daqui
para a frente, deve ser capaz não
só de estancar o número de famílias que recorrem ao programa
como de diminuir, paulatinamente, o seu público-alvo.
A observação serve para estabelecer os limites de uma política de assistência social como o
Bolsa-Família. A meta de "emancipar o maior número possível
de famílias", enunciada pelo ministro Patrus Ananias, extrapola
as fronteiras de um programa de
renda mínima. Está além dos limites até dos projetos mais modernos, que corretamente se
preocupam, como é o caso em tela, em conectar beneficiários a
iniciativas em saúde, educação e
treinamento profissional.
O que decidirá a capacidade de
emancipação dessa massa de
mais de 30 milhões de pessoas
será o nível de investimento
-público e sobretudo privado-
na ampliação dos postos de trabalho nos próximos anos.
Sem a criação maciça de novas
vagas, para cada indivíduo bem
treinado nos projetos ancilares
do Bolsa-Família que deixar o
programa porque conseguiu um
emprego, haverá um outro, que
acabou de ficar desempregado a
alistar-se para receber dinheiro
do Estado. O "desemprego estrutural" decerto existe, mas está
muito aquém do nível atual -até
porque grande parte da população ainda possui carências básicas, do século passado, como habitação e saneamento.
Por isso a agenda da política
pública do próximo presidente,
seja ele quem for, deve ser obsessiva na tarefa de reduzir os entraves que inibem os investimentos das empresas e do Estado. Baixar impostos, reduzir os
juros e cortar despesas públicas
correntes já ajudaria bastante.
Próximo Texto: Editoriais: Reação exagerada Índice
|