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CLÓVIS ROSSI
A lógica da "merda"
SÃO PAULO - George Walker
Bush, com a boca cheia de pão, foi
flagrado ensinando o seguinte a seu
colega britânico Tony Blair:
"Veja, a ironia é que o que necessitamos fazer é conseguir que a Síria faça o Hizbollah parar com essa
merda, e acabou-se".
O pior de tudo é que, linguagem
rasteira à parte, Bush tem razão: só
há uma maneira de acabar com o
conflito, e é domar o Hizbollah.
É claro que podem ser feitas mil e
uma considerações éticas, mil e
uma condenações ao uso excessivo
da força por parte de Israel, mil e
uma lamentações sobre mortes de
inocentes (dos dois lados da fronteira, é bom que se diga).
Por justas que sejam, não mudarão a "merda".
A desproporção na resposta israelense já foi apontada pela União
Européia e pela ONU, para não esticar demais a lista.
Não adiantou nada.
O fato é que Israel decidiu, já faz
um tempinho, adotar a lógica da
força e acostumou-se a ganhar com
ela sistematicamente. Não há forças armadas capazes de rivalizar
com o Tzahal, o Exército israelense.
Grupos como o Hizbollah ou o Hamas só teriam alguma chance se Israel levasse em conta, nas suas retaliações, o custo em vidas de não-combatentes, o que deixou de acontecer faz tempo.
Logo, Israel só vai parar se e
quando reduzir o Hizbollah à impotência, ainda que, no percurso, o Líbano vire pó (como a faixa de Gaza
praticamente já virou).
O único erro nessa lógica é que, a
médio prazo, ela reforça o terror em
vez de submetê-lo. Israel reduziu
Iasser Arafat a nada, no pressuposto de que ele estimulava o terrorismo. Quem o substituiu, no entanto,
foi o Hamas, que não estimula o terrorismo; é o terrorismo, segundo
Israel.
Submeter o Hizbollah será ainda
mais complicado. Logo, a "merda"
tende a continuar, enquanto não tirar o pão da boca dos poderosos.
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