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Hora da decisão
STF está próximo de decidir se acata denúncia do mensalão; peça dá chance ao país de quebrar o tabu da impunidade
A
DENÚNCIA acatada contra Marcos Valério de
Souza reaviva as brasas
algo apagadas do inquérito sobre o mensalão. O publicitário mineiro, um dos orquestradores do esquema de pagamento a políticos revelado em
2005, tornou-se réu em ação penal na qual terá de responder pela acusação de sonegar mais de
R$ 50 milhões em tributos.
Aceita pela Justiça Federal em
Belo Horizonte, a denúncia remete ao período de 1999 a 2002,
anterior à série de escândalos
que abalou o governo Lula. Mas
só foi possível por conta da devassa realizada nas empresas do
publicitário após a deflagração
da crise. Fez parte da série de iniciativas de policiais, promotores
e procuradores que se seguiram
ao escândalo -entre as quais se
destaca, pela importância dos indiciados, a denúncia apresentada em março de 2006 ao Supremo Tribunal Federal.
A instância máxima do Judiciário no país deve definir apenas na última semana de agosto
se instaura o principal processo
sobre o mensalão. Como se sabe,
o procurador-geral da República,
Antônio Fernando de Souza,
acusou 40 pessoas, entre as quais
José Dirceu, Delúbio Soares e
Marcos Valério, de integrar uma
organização criminosa.
De acordo com levantamento
da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB), em 18 anos e
meio o STF abriu 130 processos
criminais contra autoridades
protegidas pelo foro privilegiado. Um terço dos réus foi denunciado por crimes contra a administração pública, mas até o momento ninguém foi condenado.
A denúncia do procurador-geral oferece ótima oportunidade
para o Supremo superar esse retrospecto ruim. Segundo a peça
de acusação, os delitos -formação de quadrilha, corrupção ativa
e passiva, lavagem de dinheiro,
entre outros- objetivavam "garantir a continuidade do projeto
de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de
suporte político de outros partidos e do financiamento futuro e
pretérito das suas próprias campanhas eleitorais".
Raras vezes tantos indícios
veementes de delinqüência envolvendo a mais alta esfera do
poder federal foram reunidos.
Saques em dinheiro vivo e sujo,
efetuados por parlamentares e
seus assessores, estão fartamente documentados. O publicitário
da campanha de Lula confessou
ter recebido recursos por meios
ilícitos. A participação de estatais, bancos e agências de publicidade no esquema também foi
exaustivamente demonstrada.
As condições para que se faça
justiça nesse caso exemplar, portanto, são as melhores possíveis.
Será desastroso para o futuro da
política no Brasil se tamanhas
evidências de desvio de conduta
passarem impunes.
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