São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EMÍLIO ODEBRECHT

A sucessão nas empresas

O êxito de uma empresa resulta do acerto das opções estratégicas feitas por seus dirigentes, baseadas nos princípios, valores e crenças fundamentais da cultura e da governança dos negócios, somado ao trabalho sinérgico de todos que a integram.
Um momento crucial na trajetória de todas é o da sucessão de gerações e de liderança. Ao longo da vida profissional, nos preparamos para suceder -o que é relativamente fácil. Mas poucos se preparam para serem sucedidos -o que é extremamente mais difícil, até porque o ato de transferir o poder exige disciplina e desprendimento.
Um fenômeno que acontece com frequência, em especial nas empresas de controle familiar, é a vinculação do poder de fato não à posição ou ao cargo, mas ao nome ou ao sobrenome do executivo que o exerce, se ele pertence à família controladora. Quando deixa a presidência e vai, digamos, para o conselho de administração, precisa ter muito cuidado para não se tornar um peso para seu sucessor.
Um novo líder intimidado pela sombra do antigo não consegue tomar as decisões com a qualidade necessária, no tempo certo. Pior. Não aperfeiçoa o senso crítico e pode, em algum momento, esticar a corda além do limite, escudado na existência de uma "instância superior" disponível para ser acionada em caso de necessidade. Isso nunca acaba bem.
Aliás, a impressão da existência -embora informal- de uma instância decisória superior -o antigo líder- pode pôr em risco a coesão interna de qualquer organização. A continuidade de contato do sucedido com interlocutores externos que insistem em procurá-lo também deve ser evitada.
Por respeito aos compromissos com clientes e acionistas e com o futuro da organização, o ex-líder deve sair de cena, retirando-se para o conselho pelo tempo necessário para que o processo sucessório se consolide.
Na condição de conselheiro, a postura, mais do nunca, deve ser a de servir e educar -transferindo sabedoria e dedicando o tempo livre a atividades fora da empresa. Depois, até mesmo do conselho ele pode deixar de fazer parte.
É imperativo que o sucedido deixe bem claro que, no momento em que transferiu a liderança executiva dos negócios, partiu para outros desafios na vida e permanece à disposição da nova geração no exercício de um único papel: o de acionista.
Quando essa troca de gerações e das respectivas responsabilidades se dá com a transparência que descrevo, quase sempre o novo líder atende às altas expectativas que possa ter gerado. E a organização colhe os frutos de uma transição de poder bem realizada.

EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

emilioodebrecht@uol.com.br



Texto Anterior: Rio de Janeiro - Cristina Grillo: Brutalidades
Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES
Mohsen Shaterzadeh: Brasil respeitado pelas nações

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.