São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Soberania ameaçada

RIO DE JANEIRO - Passou despercebido um documento elaborado em Brasília por políticos e cientistas sociais sobre os riscos que o país enfrentará se, nos próximos 20 anos, não elevarmos a nossa taxa de crescimento. Apartidário, desprezando o curto prazo e pensando grande, o relatório teve a participação de congressistas de vários partidos e de personalidades do mundo acadêmico.
Serão cinco mandatos presidenciais sucessivos, a começar pelo próximo. As metas a atingir parecem mirabolantes, mas tudo o que deu certo ao longo da história foi mirabolante. A mediocridade até agora só produziu miséria.
São 15 as metas propostas, metade das que foram prometidas e cumpridas por JK. Crescimento na faixa dos 7%, salário mínimo na base de US$ 400, redução do desemprego para um quarto do atual e diminuição dos homicídios em 80%. Se em 20 anos não atingirmos um patamar próximo às metas propostas, diz o documento que, na economia globalizada de 2022, quando estaremos comemorando o segundo centenário de nossa independência, retornaremos à condição de colônia, assumiremos de cabeça baixa e bolso vazio a perda até mesmo da liberdade política.
Na comissão que elaborou o documento, há os nomes de Jefferson Peres (PDT-AM), Rita Camata (PMDB-ES), Yeda Crusius (PSDB-RS) e Aloizio Mercadante (PT-SP). Como se vê, gente de vários partidos.
E, entre os cientistas políticos, Hélio Jaguaribe, que há anos sustenta uma previsão lógica: "Se o Brasil continuar com esse crescimento pífio dos últimos anos, em 20 anos a moeda será o dólar e seremos uma província dos Estados Unidos".
Na realidade, o documento não traz novidade nenhuma. Não é necessário ser cientista político nem congressista para fazer um prognóstico sombrio para o longo prazo quando, no curto prazo, atravessamos uma crise que nem o dinheiro do FMI poderá superar.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde : Agora ou nunca
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Senai: 60 anos gerando empregos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.