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CARLOS HEITOR CONY
Ordem e desordem
RIO DE JANEIRO - Tanto na mídia como na conversa comum entre os cidadãos, começa a aparecer uma
preocupação com a ordem. O próprio
governo, evitando passar um recibo
mais explícito, volta e meia garante
que tudo poderá acontecer no Brasil,
menos o império da desordem.
Em tempos mais tumultuosos do
passado recente, também volta e
meia, por intermédio do ministro da
Justiça ou da chefia da Casa Civil, era
dada uma informação que todos entendiam ao contrário: "Reina ordem
em todo o país". Na realidade, era
um código, uma senha de que havia
alguma desordem em gestação ou já
a caminho de um crise institucional,
de um golpe, de um terremoto na vida nacional.
Verdade seja dita: os horizontes
não estão sombrios a esse ponto. Evidente que há nuvens aqui e ali, mas
nenhum CB (cumulus nimbus) assassino está formado e pronto a balançar nosso coreto cívico.
Em todo o caso, há que lembrar
aquele bordão dos romances antigos,
em que, diante de uma tempestade
conjugal, havia sempre um personagem que lamentava: "Como elas se
armam! Como elas se armam!". Um
feijão queimado na hora do almoço,
um pé de meia esquecido no chão do
banheiro, pequenas causas, grandes
efeitos e o bate-boca entre marido e
mulher tornava-se homicida, anunciando o temporal doméstico.
São muitos os pés de meia caídos
por aí, o feijão estragado de muita
gente. Nada dramático ainda que
não possa ser resolvido com o apelo à
concórdia, ao bom senso da sociedade. Mas, aos poucos, o discurso, tanto
o do governo como o da oposição, está se tornando virulento. E segmentos
cada vez mais numerosos estão se
unindo em torno de reivindicações,
algumas radicais, como as do sem-terra, outras ainda sujeitas à negociação, como as dos servidores públicos. E, acima de tudo, há a estagnação econômica que está empobrecendo o trabalho e enriquecendo mais
ainda o capital.
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