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São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Ordem e desordem

RIO DE JANEIRO - Tanto na mídia como na conversa comum entre os cidadãos, começa a aparecer uma preocupação com a ordem. O próprio governo, evitando passar um recibo mais explícito, volta e meia garante que tudo poderá acontecer no Brasil, menos o império da desordem.
Em tempos mais tumultuosos do passado recente, também volta e meia, por intermédio do ministro da Justiça ou da chefia da Casa Civil, era dada uma informação que todos entendiam ao contrário: "Reina ordem em todo o país". Na realidade, era um código, uma senha de que havia alguma desordem em gestação ou já a caminho de um crise institucional, de um golpe, de um terremoto na vida nacional.
Verdade seja dita: os horizontes não estão sombrios a esse ponto. Evidente que há nuvens aqui e ali, mas nenhum CB (cumulus nimbus) assassino está formado e pronto a balançar nosso coreto cívico.
Em todo o caso, há que lembrar aquele bordão dos romances antigos, em que, diante de uma tempestade conjugal, havia sempre um personagem que lamentava: "Como elas se armam! Como elas se armam!". Um feijão queimado na hora do almoço, um pé de meia esquecido no chão do banheiro, pequenas causas, grandes efeitos e o bate-boca entre marido e mulher tornava-se homicida, anunciando o temporal doméstico.
São muitos os pés de meia caídos por aí, o feijão estragado de muita gente. Nada dramático ainda que não possa ser resolvido com o apelo à concórdia, ao bom senso da sociedade. Mas, aos poucos, o discurso, tanto o do governo como o da oposição, está se tornando virulento. E segmentos cada vez mais numerosos estão se unindo em torno de reivindicações, algumas radicais, como as do sem-terra, outras ainda sujeitas à negociação, como as dos servidores públicos. E, acima de tudo, há a estagnação econômica que está empobrecendo o trabalho e enriquecendo mais ainda o capital.



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