São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Farsa de elite

SÃO PAULO - De Sérgio Cabral, o capitão Nascimento poderia dizer que é um fanfarrão.
O pedido do governador para que tropas federais venham atuar "o mais breve possível" na cidade do Rio durante o período eleitoral consagra uma política de segurança midiática com resultados desastrosos.
No ofício que enviou ao TSE, o governador diz que "Exército, Marinha, Aeronáutica, o que vier será bem-vindo". E acrescentou que seria "um belo presente" se ficassem na cidade após a campanha.
Entenda-se: Cabral viu na eleição uma brecha para fazer do Rio a capital do estado de emergência permanente. A sugestão de uma operação de guerra sem prazo de validade é oportunista e demagógica. Não visa proteger a população favelada de criminosos, mas oferecer às elites amedrontadas alguma sensação de segurança -ilusória, é claro.
O que fariam no Rio milhares de militares, durante semanas até as eleições? Ninguém sabe. Devemos imaginá-los espalhados pela cidade, como espantalhos verde-oliva a serviço da demofobia que se disseminou pela zona sul?
Ou pretendem que o Exército, sem nenhum treinamento para isso, assuma as funções da polícia e escale o morro para enfrentar o tráfico e as milícias nos locais indicados pela Justiça Eleitoral?
Não espantaria, nessa escalada de efeitos especiais, se o governador pedisse a Lula que as Forças Armadas esticassem até fevereiro para viver sua apoteose na Sapucaí.
Na melhor hipótese, a encenação de Cabral servirá para militarizar a eleição e desmoralizar o Exército. Na pior, estará patrocinando tragédias, como a que se viu há pouco no morro da Providência.
O governador do Rio é um vassalo da mídia hegemônica do seu Estado. Nem ele faz mais questão de disfarçar que subordinou seu governo à pauta das Organizações Globo. Cabral atua como um chefe de província. É simples assim.
Não há então com que se preocupar. A participação do Exército na eleição do Rio tem tudo a ver.


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