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CARLOS HEITOR CONY
Três gigantes
RIO DE JANEIRO - Não é nada,
não é nada, é quase um tudo. Tivemos no ano passado o centenário de
Machado de Assis, que foi comemorado "ad nauseam". Mesmo assim
muita coisa ficou sem ser dita a respeito de um homem que foi e continua sendo um caso no panorama
cultural brasileiro.
Neste ano, temos Euclides da Cunha, outro caso que dá o que pensar
sobre a importância de personalidades dentro e acima de qualquer
história. Embrião de Guimarães
Rosa e Glauber Rocha, marcado pela tragédia e pelo quixotismo, que o
fez quebrar a espada de oficial numa cerimônia militar, Euclides está
sendo pensado e repensado como
um dos pais fundadores de nossa
civilização.
Finalmente, temos Joaquim Nabuco, cujo centenário, no ano que
vem, já está sendo planejado pela
Academia Brasileira de Letras, que,
por sinal, lhe deve muito de sua fundação. Curiosamente, os três gigantes de nossa paisagem cultural estiveram juntos na mesma academia.
Foram além de simples escritores,
interessados na forma e no encanto
das palavras. Pensaram grande sobre a condição humana, sobre o homem brasileiro, sobre a nação da
qual permanecem como intérpretes principais.
Machado, Euclides e Nabuco são
momentos da história do Brasil, cada qual em seu setor, mas juntos pelo amor ao ofício do pensamento e
das letras. Neste particular, Euclides foi o mais exagerado, subordinando muitas vezes o pensamento
à perfeição da forma. Ao publicar a
segunda edição de "Os Sertões", ele
apertou ao máximo o limite de sua
linguagem. Não mexeu no conteúdo, mexeu apenas na forma.
Hoje, como é natural em tempos
de dúvida e de incertezas, quando
cada acadêmico da ABL reavalia a
sua presença naquela instituição, se
absolve em foro íntimo por estar na
casa que foi de Machado, Euclides e
Nabuco.
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