São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2010 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES São Paulo desigual
MARCIO POCHMANN
Quem assobia ao caminhar na escuridão não elimina a ausência de direção, podendo transmitir, falsamente, a segurança ao andar. Essa é a conclusão do artigo de M. Magalhães Jr. publicado nesta Folha ("São Paulo não se acomoda", "Tendências/Debates", 26/7), que, ao buscar desqualificar o livre pensante, deixa de fazer frente à força das ideias que expressam as contradições atualmente vividas pelo Estado de São Paulo. Pode revelar, contudo, somente o primitivismo e a contida inteligência de certos quadros dirigentes de instituições públicas paulistas. Para que se possa retornar ao entendimento acerca das contradições presentes na recente trajetória paulista, avança-se no tema da desigualdade socioeconômica territorial. A começar pelo fato de São Paulo assumir a posição de vice-liderança no conjunto dos municípios brasileiros em desigualdade na repartição da riqueza no território medido pelo PIB (Produto Interno Bruto). Em 1996, ocupava o terceiro posto. O desbalanceamento sobressai diante da força das grandes cidades metropolitanas, que absorvem cerca de 60% do total da população; da debilidade dos pequenos municípios, responsáveis por quase 1/3 dos habitantes; e da vulnerabilidade da área rural, com menos de 10% do conjunto dos residentes no Estado, segundo o IBGE. No conjunto das áreas metropolitanas, a taxa de pobreza alcança, em 2008, 13,2% dos seus habitantes, enquanto 29,4% dos residentes na zona rural vivem na condição de pobreza absoluta. Em relação à remuneração média auferida pelos ocupados nas áreas metropolitanas, os trabalhadores do meio rural recebem o equivalente a apenas 52,5%, enquanto os ocupados em pequenos municípios percebem 75,2%. A diferença entre os rendimentos médios cresceu em relação ao ano de 1999, posto que o conjunto dos ocupados do campo recebia o equivalente à quase 60% da renda dos trabalhadores nos grandes centros urbanos. E o estímulo governamental à maior concentração econômica em limitado espaço territorial faz com que o PIB dos pequenos municípios decresça sua participação relativa frente ao vigor das áreas metropolitanas. Em 1999, por exemplo, o PIB do conjunto dos pequenos municípios equivalia a somente 11,2% do PIB dos centros urbanos, caindo, em 2007, para 9,2%. Há ainda os equívocos no sistema educacional e na disseminação heterogênea e insuficiente das novas tecnologias de informação e conhecimento. No meio rural, quase 10% da população é analfabeta, enquanto nos grandes centros urbanos essa taxa atinge 3,5%. Menos de 37% das crianças com até cinco anos frequentam a escola básica no campo, ao contrário de quase 45% que o fazem nas metrópoles. Na faixa etária de 15 a 17 anos, 71% encontram-se matriculadas no ensino médio nos grandes municípios urbanos e menos de 60% no meio rural. No segmento etário de 18 a 24 anos, a taxa de frequência líquida no ensino superior atinge 20,3% nos centros metropolitanos e apenas 8,5% na zona rural. Quanto às novas tecnologias de informação, no meio rural somente 57,6% têm acesso à internet e 28,1% possuem computador, enquanto nos grandes centros urbanos oito em cada dez habitantes acessam a internet e 51,4% possuem computador. Essas e outras assimetrias socioeconômicas que condicionam a situação mais recente do Estado paulista precisam sofrer urgente e ampla reação pública articulada e integrada, capaz de planejadamente superar traços prevalentes do subdesenvolvimento. Caso contrário, o fosso que separa o povo paulista, infelizmente, tende a aumentar. MARCIO POCHMANN, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: Antonio Delfim Netto: 60 anos de crescimento Próximo Texto: Rosely Boschini: Um convite à leitura Índice |
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