São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2011 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br O atraso do herói Costuma-se dizer que as produções culturais, em particular na área da ficção, têm o poder de prenunciar acontecimentos reais. Só depois de um negro ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, todavia, é que se tem notícia de renovação equivalente no usualmente tão dinâmico universo das histórias em quadrinhos. Foi lançado nos EUA o gibi em que o Homem-Aranha adquire nova origem étnica. Com a morte de seu antigo alter ego branco, Peter Parker, o herói passa a ser encarnado por Miles Morales, jovem negro de ascendência hispânica. É verdade que já houve heróis negros nos quadrinhos americanos -mas limitaram-se a papéis coadjuvantes. Com alguma blague, pode-se dizer que, até agora, era mais fácil um super-herói ser totalmente verde, como o poderoso Hulk, do que negro. As coisas mudam, se bem que lentamente. Mesmo num evento tão convencional como os concursos de beleza feminina, foi a vez de uma negra, a angolana Leila Lopes, sagrar-se a Miss Universo. Comentou-se que seu sorriso teria cativado o júri. Talvez se deva acrescentar a circunstância de sua beleza fugir ao estereótipo plastificado da maioria das concorrentes. Estereótipos têm lugar assegurado, evidentemente, na maior parte dos eventos e produções da indústria cultural. O garoto tímido que se transforma em super-herói intrépido (e branco), assim como a mocinha anônima (e loura) que desponta para a realeza num concurso de Miss Universo, fazem parte do mesmo repertório de clichês. Por isso mesmo, algumas áreas da cultura de massa mostram impermeabilidade ao que há de complexo e heterogêneo no mundo contemporâneo. Também por isso, soam frequentemente forçadas tentativas de impor o "politicamente correto" ao conteúdo dos contos de fadas e da ficção. Melhor o "politicamente correto", sem dúvida, do que o preconceito. Menos do que uma imposição ideológica, entretanto, é a própria realidade, no jogo das reivindicações políticas e das mudanças cotidianas, que vai dissolvendo as construções mentais cristalizadas no passado. O processo, sem dúvida lento, prescinde de passes de mágica e superpoderes fabulosos. O Homem-Aranha negro não chega tão tarde, todavia, a ponto de tornar-se dispensável a sua intervenção. Texto Anterior: Editoriais: Soluço protecionista Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: CNJ e faxina da Justiça Índice | Comunicar Erros |
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