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CARLOS HEITOR CONY
Tempo de paradas
RIO DE JANEIRO - Simultâneas,
com vários significados e diferentes
interpretações, o Rio teve no último
domingo as paradas gay e a da vaca,
esta última em sua versão erudita,
"cow parade", combinando com o
"gay", que me parece já estar dicionarizado como palavra nacionalizada e indolor aos ouvidos dos puristas mais radicais da nossa língua.
Segundo os jornais, um milhão de
pessoas participaram da parada
gay, que teve presença do governador local, que não é gay, mas defende a causa, assumindo uma atitude
que merece louvor e continuidade.
Mais cedo ou mais tarde, as principais reivindicações do alegre povo
do arco-íris serão atendidas, principalmente a que formaliza a união
estável dos casais, até agora discriminados pela legislação.
Mais complexa, sem causa comum e definida, 200 vacas de fibra
de vidro foram espalhadas pela zona sul, território até então virgem
de vacas de verdade. Que se saiba,
desde Duclerc e Duguay-Trouin,
que em tempos outros invadiram
o Rio pela zona sul, então deserta,
nunca foram vistas vacas compondo uma paisagem pastoral e
bucólica.
Verdade seja dita: foram um sucesso. Turistas que outrora se fotografavam em torno do Cristo Redentor trocaram uma das sete maravilhas pelas vacas, que são mais
antigas do que o nosso Salvador
-uma delas esquentou com o seu
hálito de ervas o menino da manjedoura de Belém.
Verdade também que algumas
delas foram aviltadas pelos seus
criadores, embora a maioria conserve a elegância e o belo desenho
que a natureza lhes deu. Em Ipanema, uma vaca está vestida com um
maiô de duas peças anos 60 e óculos
escuros do tamanho de uma bicicleta infantil. Outra está cheia de colares e miçangas, mais para perua do
que para vaca.
Todas irão para o brejo.
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