São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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O lugar de cada um

Expectativa de Lula, de eleição "plebiscitária" em 2010, contrasta com a pobreza do debate político neste momento

HAVIA LUGAR para muita gente no alojamento improvisado às margens da BR-323, perto da cidade pernambucana de Custódia. O escritório dos responsáveis por aquele trecho das obras de transposição do rio São Francisco foi adaptado para receber o presidente Lula e sua comitiva, na sua recente viagem-comício pelo sertão nordestino.
Suítes com frigobar acomodaram ministros como Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, e Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão de Lula. Outro possível postulante à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), também usufruiu das hospitalidades do local.
Enquanto oposicionistas pedem esclarecimentos quanto aos gastos e propósitos da suposta viagem de "inspeção" presidencial, uma pergunta suplementar poderia ser feita -incidindo, digamos, sobre outro tipo de acomodações. O espaço que não faltou aos presidenciáveis durante a viagem talvez se mostre exíguo, do ponto de vista político, quando a campanha começar de fato.
Pelo menos, parece ser esta a expectativa do presidente Lula, que expressou seu desejo de ver apenas um candidato governista em 2010. "Eu gostaria", disse, que "fizéssemos uma eleição plebiscitária, ou seja, nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo".
Estava dado o recado a Ciro Gomes, se é que isso conta muito em fase tão incipiente do processo. O que mais caracteriza os preparativos para 2010, aliás, é que não chega nem mesmo a ser "plebiscitário" o atual estágio do debate. Tudo já seria bastante pobre se estivessem em jogo apenas duas alternativas de poder. Nem isso ocorre no momento.
O PSDB não apenas hesita em definir seu candidato como também vê suas principais lideranças sem condições de propor à discussão pública uma agenda oposicionista coerente.
Tudo se resume a algumas farpas ocasionais, como a que o governador José Serra dirigiu contra as obras no rio São Francisco. Criticou a ausência de projetos de irrigação no semiárido; numa resposta irônica, Lula disse não saber que Serra "tinha alguma preocupação com o Nordeste".
Não admira que, enquanto aguarda impacientemente as decisões do tucanato, o DEM concentre suas energias oposicionistas em requerimentos a respeito dos gastos da viagem.
Acuada à menor ameaça de receber os rótulos de "privatista" e "neoliberal", a oposição não chega a formular nenhum projeto novo para o Brasil; o das forças governistas, por outro lado, embala-se no bom momento econômico para prometer mais empreitadas e mais gastos.
Mais do que uma plataforma do PT, do PSB ou de qualquer outra agremiação, destaca-se no momento um discurso fartamente conhecido na história brasileira: o do Partido do Governo, o do Partido das Obras, à qual aderem políticos de qualquer tendência ideológica. Qualquer que seja o número dos candidatos em 2010, é inegável que cabe muita gente, com efeito, nessa vasta acomodação.


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