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Editoriais
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O lugar de cada um
Expectativa de Lula, de eleição "plebiscitária" em 2010, contrasta com
a pobreza do debate político neste momento
HAVIA LUGAR para muita
gente no alojamento
improvisado às margens da BR-323, perto
da cidade pernambucana de
Custódia. O escritório dos responsáveis por aquele trecho das
obras de transposição do rio São
Francisco foi adaptado para receber o presidente Lula e sua comitiva, na sua recente viagem-comício pelo sertão nordestino.
Suítes com frigobar acomodaram ministros como Geddel
Vieira Lima, da Integração Nacional, e Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à sucessão de
Lula. Outro possível postulante à
Presidência, o ex-ministro Ciro
Gomes (PSB), também usufruiu
das hospitalidades do local.
Enquanto oposicionistas pedem esclarecimentos quanto aos
gastos e propósitos da suposta
viagem de "inspeção" presidencial, uma pergunta suplementar
poderia ser feita -incidindo, digamos, sobre outro tipo de acomodações. O espaço que não faltou aos presidenciáveis durante
a viagem talvez se mostre exíguo,
do ponto de vista político, quando a campanha começar de fato.
Pelo menos, parece ser esta a
expectativa do presidente Lula,
que expressou seu desejo de ver
apenas um candidato governista
em 2010. "Eu gostaria", disse,
que "fizéssemos uma eleição plebiscitária, ou seja, nós contra
eles, pão, pão, queijo, queijo".
Estava dado o recado a Ciro
Gomes, se é que isso conta muito
em fase tão incipiente do processo. O que mais caracteriza os preparativos para 2010, aliás, é que
não chega nem mesmo a ser "plebiscitário" o atual estágio do debate. Tudo já seria bastante pobre se estivessem em jogo apenas
duas alternativas de poder. Nem
isso ocorre no momento.
O PSDB não apenas hesita em
definir seu candidato como também vê suas principais lideranças sem condições de propor à
discussão pública uma agenda
oposicionista coerente.
Tudo se resume a algumas farpas ocasionais, como a que o governador José Serra dirigiu contra as obras no rio São Francisco.
Criticou a ausência de projetos
de irrigação no semiárido; numa
resposta irônica, Lula disse não
saber que Serra "tinha alguma
preocupação com o Nordeste".
Não admira que, enquanto
aguarda impacientemente as decisões do tucanato, o DEM concentre suas energias oposicionistas em requerimentos a respeito dos gastos da viagem.
Acuada à menor ameaça de receber os rótulos de "privatista" e
"neoliberal", a oposição não chega a formular nenhum projeto
novo para o Brasil; o das forças
governistas, por outro lado, embala-se no bom momento econômico para prometer mais empreitadas e mais gastos.
Mais do que uma plataforma
do PT, do PSB ou de qualquer outra agremiação, destaca-se no
momento um discurso fartamente conhecido na história
brasileira: o do Partido do Governo, o do Partido das Obras, à qual
aderem políticos de qualquer
tendência ideológica. Qualquer
que seja o número dos candidatos em 2010, é inegável que cabe
muita gente, com efeito, nessa
vasta acomodação.
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