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A LÓGICA DO MAIS FORTE
O presidente norte-americano, Bill
Clinton, fez enérgico discurso, na semana passada, para dizer que os EUA
não tolerarão a "inundação" de seu
mercado por produtos baratos, particularmente o aço, no pressuposto de
que a inundação ameaçaria empregos de norte-americanos.
Seu secretário de Comércio, William Daley, foi ainda mais longe no
raciocínio. Ao comentar o saldo comercial do Japão com os demais países, excetuados os asiáticos, fez a seguinte observação: "É quase 3,5 vezes maior do que era há um ano. Trata-se de uma grande fonte de instabilidade, que pode levar à inquietação
política, na medida em que as pessoas temam por seus empregos".
É lógico e até elogiável que autoridades de um dado país se inquietem
com os problemas para os empregos
internos eventualmente causados
por um excesso de importações.
Mas um mínimo de coerência exige
que os EUA não fechem os olhos para situações similares de que eles são
beneficiários, em vez de vítimas.
No caso das relações comerciais entre o Brasil e os EUA, é possível fazer
rigorosamente as mesmas contas
que o secretário Daley fez sobre o saldo comercial japonês. Até 1994, o
Brasil exportava mais do que importava dos EUA. A partir de então, o
quadro se inverteu rápida e amplamente, a ponto de, no ano passado,
ter havido um saldo de quase US$ 5
bilhões a favor dos EUA, quando, em
1990, o saldo favorável ao Brasil era
superior a US$ 3 bilhões.
Seguindo até o fim a lógica de Daley, tais números podem ser tomados como "grande fonte de instabilidade" no Brasil e ameaça aos empregos de trabalhadores brasileiros.
Se os EUA desejam mesmo que a
economia brasileira seja forte, como
disse Bill Clinton, o caminho mais
consistente é a redução das barreiras
que impedem a entrada da produção
brasileira no maior mercado do
mundo. Seria a melhor maneira de
evitar a sensação de que os EUA pregam uma coisa -a liberdade comercial-, mas praticam outra.
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