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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Presente de Natal
Há alguns anos, ao entrar na Catedral de São Paulo, encontrei
uma menina pobre sentada no degrau. Ela olhava com atenção para os
que entravam na igreja. Não estendeu
a mão. Não falou. Continuava olhando para todos. Franzina e desabrigada, causou-me tristeza. Voltei e perguntei-lhe: "Você precisa de alguma
coisa?". Esperou um pouco e respondeu-me: "Sim, eu quero muito ter
mãe". Desejava o mais importante e
também o mais difícil. Como atender
o seu pedido? Conversamos longamente. Aceitou algum alimento. Procurei então fazê-la conhecer o presente de Jesus: sua mãe é nossa mãe.
É certo que o amor de mãe abre-nos
à vida e vale mais do que todas as coisas e amizades. Quando falta esse
amor, são grandes o sofrimento e a
angústia. As crianças abandonadas
que perambulam pelas ruas sabem,
como essa menina, o quanto lhes custa não ter a seu lado a mãe que lhes
queira bem e a elas se dedique. A ausência da mãe é, às vezes, suprida pelo
afeto de familiares e pela generosidade
de quem adota a criança. Tudo isso
ajuda muito. Jesus Cristo, conhecedor
do coração humano, quis nos oferecer
mais, deu-nos a alegria de chamarmos
de mãe à sua própria mãe. Na cruz, Ele
entregou-nos Maria. Ela assumiu, como mãe, João e os discípulos de todos
os tempos.
No mais profundo do nosso ser, somos chamados a ter a certeza do amor
que Deus nos tem. É à luz desse amor
que entendemos o dom de Jesus, concedendo-nos a alegria de experimentar a presença e o desvelo de sua mãe.
A menina na porta da igreja nos ajuda a descobrir de novo a necessidade
que temos do presente de Jesus. Quem
de nós, mesmo tendo a graça de conviver durante anos com aquela que
nos deu à luz, não sente quanto o
amor de Maria atinge o mais profundo do nosso ser? A união com a Mãe
de Deus vai além de toda outra experiência afetiva humana. Ela é a expressão materna do amor do próprio Deus
por nós. A oração filial, a imitação de
sua fé e das outras virtudes, a entrega
aos outros como Maria fez, tudo isso
faz-nos crescer no amor unitivo, vencer a solidão e sentirmo-nos amados.
Ela é Mãe e nos ensina a confiar sempre no Pai, a acreditar em seu Filho, a
assumir sua missão e a participar no
seu sofrimento redentor. Ela nos comunica seu anseio de justiça, a solidariedade com seus filhos, nossos irmãos, e a esperança firme da vida eterna.
A presença materna de Maria é, de
fato, para os católicos, uma das características de nossa fé. Temos de valorizá-la e fazê-la crescer em nós. Jesus
Cristo, ao voltar para o Pai, quis que
seus discípulos pudessem contar sempre com a presença amorosa de sua
mãe, que intercede por nós,
O mês de dezembro, no tempo do
Advento, convida-nos a intensificar
ainda mais a devoção à Mãe de Jesus e
nossa mãe querida. Cada um de nós,
sozinho no seu íntimo e reunido com
os irmãos na fé, pode sempre descobrir melhor o que a menina franzina
buscou até encontrar. Quem descobre
em Maria a própria mãe compreende
a beleza do presente de Jesus Cristo e o
amor de seu coração por nós.
No dia 5 de dezembro, a Arquidiocese de Mariana realizou a peregrinação
das 130 paróquias ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição
Aparecida. Foi momento de fé, de fraternidade e de intensa alegria.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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