São Paulo, sábado, 18 de dezembro de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Presente de Natal

Há alguns anos, ao entrar na Catedral de São Paulo, encontrei uma menina pobre sentada no degrau. Ela olhava com atenção para os que entravam na igreja. Não estendeu a mão. Não falou. Continuava olhando para todos. Franzina e desabrigada, causou-me tristeza. Voltei e perguntei-lhe: "Você precisa de alguma coisa?". Esperou um pouco e respondeu-me: "Sim, eu quero muito ter mãe". Desejava o mais importante e também o mais difícil. Como atender o seu pedido? Conversamos longamente. Aceitou algum alimento. Procurei então fazê-la conhecer o presente de Jesus: sua mãe é nossa mãe.
É certo que o amor de mãe abre-nos à vida e vale mais do que todas as coisas e amizades. Quando falta esse amor, são grandes o sofrimento e a angústia. As crianças abandonadas que perambulam pelas ruas sabem, como essa menina, o quanto lhes custa não ter a seu lado a mãe que lhes queira bem e a elas se dedique. A ausência da mãe é, às vezes, suprida pelo afeto de familiares e pela generosidade de quem adota a criança. Tudo isso ajuda muito. Jesus Cristo, conhecedor do coração humano, quis nos oferecer mais, deu-nos a alegria de chamarmos de mãe à sua própria mãe. Na cruz, Ele entregou-nos Maria. Ela assumiu, como mãe, João e os discípulos de todos os tempos.
No mais profundo do nosso ser, somos chamados a ter a certeza do amor que Deus nos tem. É à luz desse amor que entendemos o dom de Jesus, concedendo-nos a alegria de experimentar a presença e o desvelo de sua mãe.
A menina na porta da igreja nos ajuda a descobrir de novo a necessidade que temos do presente de Jesus. Quem de nós, mesmo tendo a graça de conviver durante anos com aquela que nos deu à luz, não sente quanto o amor de Maria atinge o mais profundo do nosso ser? A união com a Mãe de Deus vai além de toda outra experiência afetiva humana. Ela é a expressão materna do amor do próprio Deus por nós. A oração filial, a imitação de sua fé e das outras virtudes, a entrega aos outros como Maria fez, tudo isso faz-nos crescer no amor unitivo, vencer a solidão e sentirmo-nos amados. Ela é Mãe e nos ensina a confiar sempre no Pai, a acreditar em seu Filho, a assumir sua missão e a participar no seu sofrimento redentor. Ela nos comunica seu anseio de justiça, a solidariedade com seus filhos, nossos irmãos, e a esperança firme da vida eterna.
A presença materna de Maria é, de fato, para os católicos, uma das características de nossa fé. Temos de valorizá-la e fazê-la crescer em nós. Jesus Cristo, ao voltar para o Pai, quis que seus discípulos pudessem contar sempre com a presença amorosa de sua mãe, que intercede por nós,
O mês de dezembro, no tempo do Advento, convida-nos a intensificar ainda mais a devoção à Mãe de Jesus e nossa mãe querida. Cada um de nós, sozinho no seu íntimo e reunido com os irmãos na fé, pode sempre descobrir melhor o que a menina franzina buscou até encontrar. Quem descobre em Maria a própria mãe compreende a beleza do presente de Jesus Cristo e o amor de seu coração por nós.
No dia 5 de dezembro, a Arquidiocese de Mariana realizou a peregrinação das 130 paróquias ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Foi momento de fé, de fraternidade e de intensa alegria.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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