São Paulo, quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

A abolição dos juros


Fed reconhece situação dramática dos EUA, anula custo de crédito de curto prazo e anuncia outras ações anticrise inusitadas

DIANTE DO aprofundamento da crise, o Fed cortou a taxa de juros básica de 1% para uma banda que vai de zero a 0,25% ao ano. Em atitude ousada, o BC americano oficializou a extinção, por tempo indefinido, dos juros de curto prazo nos Estados Unidos, entre outras surpresas reveladas na nota divulgada logo após a reunião de terça.
A redução drástica na meta oficial de juros do Fed é um reconhecimento de que a taxa efetiva, resultante das transações diárias, já estava havia algum tempo nessa faixa: na véspera do encontro, registrou 0,18% ao ano.
Além disso, a autoridade monetária chancelou, com sua decisão, o diagnóstico de que a economia do país atravessa uma fase de deterioração dramática. As condições do mercado de trabalho não param de piorar. Apenas em novembro, 533 mil empregos foram eliminados nos EUA, o que acelerou uma marcha de 11 meses consecutivos de queima de postos de trabalho.
Os gastos dos consumidores, os investimentos das empresas e a produção industrial também declinam, e o mercado de crédito continua bastante restritivo. O Fed fez menção explícita, ainda, à forte redução das pressões inflacionárias. O índice de preços ao consumidor caiu 1,7% em novembro, depois de ter registrado queda de 1% em outubro.
O comunicado do Fed deixa claro que serão empregadas "todas as ferramentas disponíveis para promover a retomada do crescimento econômico". Isso significa anular a taxa de juros básica por algum tempo, bem como lançar mão de outros meios inusitados. Nos próximos trimestres, o Fed irá comprar dívida de agências hipotecárias e títulos lastreados em hipotecas a fim de estimular o mercado residencial.
Já no início de 2009, a fim de irrigar a economia com dinheiro, o BC americano vai comprar em seus leilões títulos de crédito destinado a famílias e a pequenas empresas. Anunciou ainda que avalia os benefícios potenciais da compra de títulos de longo prazo do Tesouro, no intuito de forçar uma redução maior de suas taxas de juros e contribuir, assim, para uma reestruturação dos balanços dos devedores e uma retomada dos gastos das famílias e das empresas.
Por conta da crise, os juros básicos americanos despencaram mais de 5 pontos percentuais em 15 meses -a meta para a taxa americana correspondente à Selic brasileira estava fixada em 5,25% ao ano até setembro de 2007, quando começou a derrocada das hipotecas de altíssimo risco, chamadas de "subprime".
A atitude do Fed, ao empurrar os juros americanos para o rés do chão, torna as taxas praticadas no Brasil ainda mais elevadas na comparação global. O dólar, que vinha se valorizando no mundo todo, começa a se desvalorizar.
A disparada da moeda americana não afetou os índices de preços brasileiros neste fim de ano, tampouco as expectativas de inflação para 2009, que apontam desaceleração. Esvaem-se, assim, os últimos argumentos da equipe de Henrique Meirelles para retardar a redução dos juros básicos também no Brasil.


Próximo Texto: Editoriais: Retalhos de reforma

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.