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Cortinas de fumaça
Proposta de plebiscito para uma Constituinte se presta a prover o discurso petista de respostas para o tema da corrupção
PRIMEIRO , um lance de
marketing político rudimentar. Em seguida, uma
proposta requentada e
inviável. É desse modo que o presidente Lula e o PT cuidam de
preparar, no desconfortável tema do combate à corrupção, o
discurso da ministra Dilma
Rousseff para a eleição de 2010.
Na semana passada, numa iniciativa puramente propagandística, o presidente enviou ao Congresso um projeto de lei tornando hediondos os crimes de corrupção ativa e passiva, peculato e
concussão. Como já observado
neste espaço, aumentar a severidade das punições em casos desse tipo não altera em nada o problema que de fato se necessita
resolver: o de que haja rápida e
concreta aplicação da lei.
Acrescenta-se agora, por iniciativa do PT, uma ideia já apresentada em 2007: a de que se realize um plebiscito sobre a convocação de uma Constituinte exclusiva, destinada a promover a
reforma política.
No cronograma petista, a tese
do plebiscito seria votada na
mesma convenção partidária
que consagrará -pois esta é a
vontade de Lula- o nome de Dilma Rousseff como candidata à
sucessão presidencial.
De um lado -com a tese do
"crime hediondo"- cria-se uma
bandeira de fácil entendimento
popular. De outro, acena-se com
um plano supostamente sólido
destinado a empreender a reforma política, para consumo de
uma plateia mais restrita.
O assunto retorna com frequência na retórica lulista, numa
formulação inverídica: a de que o
Planalto sempre quis promover
mudanças no sistema, deparando-se entretanto com o desinteresse do Congresso.
O fato é que não houve real empenho, nem da parte do Executivo nem dos partidos que o
apoiam, no sentido de tornar a
reforma política algo além de
uma desconversa, a ser repetida
cada vez que se tornavam mais
graves as denúncias de irregularidades no governo.
Com todas as ressalvas que o
mecanismo inspira, a realização
de plebiscitos pode sem dúvida
estimular discussões reais na sociedade -foi o que aconteceu
quando esteve em pauta a proibição ao comércio de armas.
Questões precisas e concretas
-como, por exemplo, a do voto
facultativo- poderiam, sem dúvida, ser submetidas à consulta
popular. A da conveniência de
uma Constituinte nada coloca de
real na discussão política.
Na melhor das hipóteses, trata-se apenas de uma cortina de
fumaça, a ser usada durante a
campanha eleitoral; na pior, viria
a fragilizar ainda mais a percepção de que a Carta de 1988, com
todas as reformas de que necessita, deve continuar a ser respeitada como o documento fundamental da democracia brasileira.
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