São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula corre atrás de Chávez

RIO DE DE JANEIRO - Como o mar não está para peixe, nem há consenso sobre coisa nenhuma no Mercosul, o Brasil na verdade aproveita a 32ª reunião dos presidentes do bloco, ontem e hoje no Rio, para intensificar suas relações bilaterais com os parceiros.
Hugo Chávez saiu muito na frente. Ajuda a Argentina, o Paraguai e o Uruguai a pagarem bônus de suas dívidas, financia um banco e programas de moradia popular no Uruguai, cria créditos para empresas da região pagarem suas dívidas, sobretudo da Argentina e na área de energia. Não é pouco.
São medidas concretas que não apenas compram simpatias dos presidentes e das populações como evitam que eles e elas "caiam nas garras" dos EUA. Enquanto isso, o Brasil não tem uma fonte comparável nem de petróleo nem de dólares e não pode competir com a Venezuela nessa base. A integração que o Brasil defende é de princípios, a que Chávez executa é "objetiva".
Lula, Amorim, petistas do governo e diplomatas em geral não admitem a competição entre Brasil e Venezuela -ou melhor, entre Lula e Chávez- pela liderança na América do Sul. Mas é evidente que ela existe. Uma competição que passa pelos petrodólares e também pela personalidade de Chávez e por suas investidas na direção que o velho PT e o velho Lula defenderam um dia.
As disputas entre Brasil e Argentina fizeram história, mas hoje se resumem a questões muito pontuais, como reclamação na OMC por tarifas das embalagens de refrigerantes e a entrada ou não da Bolívia no bloco. Mas são "peanuts", como dizem os americanos. O jogo de poder está centrado na Venezuela.
A cúpula, pois, está sendo uma espécie de mercado, em que os menores (Paraguai, Uruguai e a promessa Bolívia) oferecem suas condições, Brasil e Argentina discutem se compram ou não, e Chávez se diverte. Porque ele avança, e Lula corre atrás. Até nos discursos.


elianec@uol.com.br

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