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JOSÉ SARNEY
Um segredo energético
UMA VEZ, o comandante Maranhão, pioneiro na exploração do táxi aéreo, inventor e iluminado, procurou-me para
dizer que descobrira um novo combustível que iria desbancar o petróleo. Queria registrar a patente, receoso de que fosse roubada. Procurei dele uma pista qualquer para
entender o seu delírio. Ele pedia
garantia total de sigilo, que eu não
falasse a ninguém. Só entregaria os
detalhes ao presidente da República. Seu invento iria revolucionar o
mundo. Ele gozava do prestígio de
ser o único piloto que sabia cair:
três vezes, sem vítimas e em segurança! Voava os Cessnas 170, um
monomotor de asa alta, de baixa
velocidade, que consertava com
arame. Num desses, na campanha
presidencial de 1960, Jânio recusou-se a voar: "Sarney, você quer
um candidato morto ou um presidente vivo?". Estranhei sua reação.
Fiquei agastado: "É esse o que temos, voa comigo e meus filhos". Ficamos amuados, até que ele me
disse, com voz carinhosa: "Sarney,
meu bem, isso se chama prudência.
Prudência! Prudência! Prudência!"
A descoberta do comandante
Maranhão morreu com ele. Depois
circulou que sua matéria-prima
era a lama que circundava os manguezais! Nunca quis confiar sua
descoberta a ninguém, e nela ninguém acreditava.
Conto essa pequena história para dizer que estou desconfiado de
que o Brasil tem um segredo bem
guardado de alguma fonte de energia que ninguém sabe qual é.
Todo tempo vivemos a ameaça
de apagão, que não podemos crescer mais de 3% por falta de energia,
e isso não abala ninguém. Ao contrário, recrudescem os movimentos que recusam a construção de
hidrelétricas. Elas criam danos irreparáveis à natureza. A energia
nuclear também não aceitamos.
Angra 3 aí está, com um prejuízo
monumental, a exigir, só para manutenção do material já comprado,
milhões de dólares. Os gasodutos e
os pedidos de pesquisa para nossos
campos de petróleo não tramitam,
como ocorre na bacia do Maranhão, porque abstratamente podem prejudicar o peixe-boi.
Contraditoriamente, o mais fácil
no Brasil é conseguir licença para
termoelétricas, a base de óleo combustível, estas sim, que, com os automóveis movidos a hidrocarbonetos, são as mais poluentes e responsáveis pelo efeito estufa, que
amedronta o mundo com o aquecimento global.
Mas, já que não queremos energia hidráulica, nem nuclear, e estamos de acordo sobre a recusa de
ampliar o consumo de combustíveis fósseis, o Brasil deve ter uma
outra fonte secreta de energia, de
uma origem que ninguém sabe.
A solução é ressuscitar o comandante Maranhão para trazer o seu
segredo.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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