São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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IGOR GIELOW

A crise e a Fazenda

BRASÍLIA - Durante todos os anos do governo Lula, o que mais se ouviu dos tucanos e pefelês, ops, "demos" em geral era que tudo estava bem porque a economia mundial cruzava céus de brigadeiro.
Que, como presidente, o petista é um ótimo surfista. Que FHC só naufragou no segundo mandato porque era um administrador de crises. Infelizmente, parece que teremos uma chance de tirar a limpo a tese oposicionista.
Quando o presidente americano afirma que há risco de recessão, a coisa está feia. Tudo bem que dia desses Bush falou no risco de uma Terceira Guerra Mundial, mas não se pode ignorar o que um mandatário dos EUA diz, mesmo que um "pato manco" em estágio avançado como ele. Ninguém arrisca vaticinar o que vai acontecer, se uma turbulência ou uma hecatombe, mas os sinais não são encorajadores.
Por aqui, o discurso oficial é o possível: os fundamentos da economia estão bem, temos um colchão de reservas fofo o suficiente para absorver choques. Tudo isso é verdade. Mas há dúvidas sérias, como o grau de infecção possível das empresas brasileiras mais globais.
O que não ajuda é a Fazenda. Sem fazer coro às viúvas de Antonio Palocci Filho, cujos méritos costumam ser exagerados por uma ativa torcida "queremista" na mídia e no mercado, é forçoso dizer que Guido Mantega não inspira confiança para o caso de a crise explodir. Suas declarações pendulares, a inabilidade política, o "desenvolvimentismo" voluntarista de sua equipe, nada disso é motivo de conforto.
Logo, surgem sussurros sobre alternativas. No escopo governista, muitos levam à sede do BNDES: Luciano Coutinho tem uma influência como havia muito não se via no cargo, embora não faça o tipo "gênio das finanças" à la Armínio Fraga, que geralmente é necessário nessa hora. Mantega deve estar acendendo velas. Por motivos diversos, nós também deveríamos.


igielow@folhasp.com.br

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