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TENDÊNCIAS/DEBATES
A cooperação Brasil-China na área espacial
CELSO AMORIM e SERGIO MACHADO REZENDE
Brasil e China já lançaram
os satélites CBERS em 1999, 2003 e 2007; agora, devem lançar o CBERS-3 em 2011e o CBERS-4 no ano de 2014
DESDE o restabelecimento das
relações diplomáticas, em
1974, o Brasil e a China têm
passado por um processo contínuo
de aproximação, que ganhou nos últimos anos uma escala sem precedentes, em especial nas áreas de comércio e de ciência e tecnologia.
A troca de visitas de alto nível tem
sido, ao mesmo tempo, um reflexo e
um fator dessa intensificação das relações bilaterais. Receberemos no
Brasil nesta semana o vice-presidente chinês, Xi Jinping. Em maio próximo, o presidente Lula deverá voltar à
China, na sequência de uma série de
visitas recíprocas realizadas por ele e
pelo presidente Hu Jintao.
Foi nesse contexto de maior proximidade política que o comércio bilateral cresceu a um ritmo impressionante nos últimos anos. A corrente de
comércio entre os dois países passou
de US$ 6,6 bilhões, em 2003, para
US$ 36,5 bilhões, em 2008, com um
crescimento de mais de 550%, quando a expectativa dos dois governos era
atingir o valor de US$ 30 bilhões apenas em 2010. A China já é a segunda
maior parceira individual do Brasil na
área de comércio, depois dos EUA.
Os resultados também são expressivos em outros setores e, em particular, em ciência e tecnologia, área crucial para o desenvolvimento dos dois
países. Na sequência de uma visita do
então ministro Renato Archer a Pequim, em 1986, o Brasil e a China estabeleceram, dois anos depois, uma
parceria para a construção, o lançamento e a operação dos satélites
CBERS (sigla, em inglês, de Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), que, ainda hoje, representa o
maior projeto de cooperação conjunta na área de ciência e tecnologia entre países em desenvolvimento.
Ao romper com o padrão de propriedade individual de satélites de
sensoriamento remoto, o programa
CBERS permitiu aos dois países produzir dados e imagens de seus territórios a custo reduzido. O programa
insere-se na estratégia de utilizar a
tecnologia espacial como instrumento a serviço do desenvolvimento sustentável, pois é fonte de dados para
a formulação de políticas públicas
em áreas como monitoramento ambiental, desenvolvimento agrícola e
planejamento urbano.
O CBERS é reconhecido como um
dos principais programas de sensoriamento remoto do mundo. Brasil e
China já lançaram os satélites
CBERS-1, em 1999; CBERS-2, em
2003; CBERS-2B, em 2007; e devem
lançar o CBERS-3, em 2011, e o
CBERS-4, em 2014. Isso promove a
inovação na indústria espacial brasileira e gera empregos em setor estratégico.
O Brasil tem fornecido a estrutura mecânica dos satélites, o sistema
de geração de energia e o sistema de
coleta de dados e telecomunicações.
No último dia 15 de janeiro, após
operar por mais de cinco anos (mais
de duas vezes e meia o tempo inicialmente previsto), o satélite CBERS-2
encerrou os seus trabalhos.
Nesse período, superou as expectativas ao gerar mais de 175 mil imagens que serviram para monitorar o ambiente e
controlar desmatamentos, bem como
avaliar o estado de áreas agrícolas e
a ocupação de centros urbanos.
Sempre dispostos a compartilhar
os benefícios sociais do sensoriamento remoto com o mundo em desenvolvimento, o Brasil e a China estenderam o acesso das imagens e dos dados aos seus parceiros. Com o
CBERS-2, o Brasil tornou-se o maior
distribuidor de imagens de satélite do
mundo, fornecendo gratuitamente,
pela internet, desde junho de 2004,
mais de meio milhão de imagens para
cerca de 20 mil usuários. A China
também adota política similar e já
distribuiu mais de 200 mil imagens.
Os países da América do Sul ao alcance das antenas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em Cuiabá, são os mais beneficiados por essa
política. Em 2007, o Brasil e a China
decidiram fornecer as imagens do
CBERS também aos países da África.
Dessa forma, os governos e as organizações do continente africano podem
monitorar desastres naturais, desmatamentos, ameaças à produção agrícola e riscos à saúde pública.
É essencial a manutenção de um
programa espacial ágil e eficaz, voltado para o desenvolvimento do país e
para a melhoria da qualidade de vida
de todos os brasileiros. Os 20 anos
bem vividos do CBERS, que celebramos desde 2008, e a sua continuidade
com os próximos satélites são a certeza de que teremos mais avanços e
benefícios para o Brasil, a China e os
demais países em desenvolvimento
nos próximos 20 anos.
CELSO AMORIM , 66, diplomata, doutor em ciência política pela London School of Economics (Inglaterra), é ministro das Relações Exteriores.
SERGIO MACHADO REZENDE , 65, físico, doutor em física pelo MIT (EUA), professor titular licenciado da Universidade Federal de Pernambuco, é ministro da Ciência e
Tecnologia. Foi presidente da Finep (Financiadora Nacional de Estudos e Projetos) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco.
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