|
Próximo Texto | Índice
Aparelho na TV
Lula e o PT querem deixar sua marca particular no telecoronelismo criando um canal do Executivo; proposta é descabida
A PRIMEIRA resposta do
governo Lula aos reclamos petistas pela "democratização" da mídia foi anunciar a criação de uma
TV chapa-branca. Só a título de
implantação, a chamada Rede
Pública do Executivo sacaria do
contribuinte R$ 250 milhões, na
estimativa oficial -avaliações
realistas elevam esse custo para,
no mínimo, R$ 500 milhões.
O ministro Hélio Costa (Comunicações) diz que o governo
encontra dificuldades em "mostrar suas idéias" nos canais privados e que, "até por segurança
nacional, não se pode prescindir
de uma rede pública". Falta "liberdade de circulação de opinião", afirma seu colega Tarso
Genro, agora na Justiça.
São argumentos pueris, reiterados na tentativa de dourar a pílula de uma iniciativa que visa
tão-somente à autopropaganda
dos governantes. Os problemas
do presidencialismo brasileiro,
no que tange à sua exposição e à
sua influência nos meios de comunicação, dizem respeito a excesso, e não a carência.
Por conta da formação histórica do país e do atraso econômico
e institucional a que estão entregues vastas porções do território,
o Executivo federal no Brasil sofre de hipertrofia também no
campo da mídia. As verbas publicitárias do governo e das estatais
sustentam as finanças de uma
miríade de veículos. As concessões de rádio e TV são das mais
prolíficas moedas de troca com
oligarquias regionais.
Além disso, um considerável
aparato de comunicação estatal
veio se amontoando com os anos
sob os auspícios do governo federal. A Radiobrás, com mais de mil
jornalistas e orçamento anual de
R$ 100 milhões, congrega duas
agências de notícias, quatro rádios e duas TVs -entre elas um
canal dedicado à divulgação das
"idéias" do Executivo, o NBR,
produzido para TV a cabo.
O arsenal amazônico de comunicação do Estado brasileiro não
se limita à esfera federal. A última década assistiu à expansão
frenética de veículos de divulgação institucional, como os canais
do Senado, da Câmara, da Justiça, das Assembléias estaduais.
Sob a saudável diretriz de dar
transparência aos atos dos Poderes, criou-se uma máquina gigantesca, que extrapola o objetivo original. Apenas no âmbito do
Legislativo, 58 TVs foram criadas no país em 12 anos.
Os 26 maiores canais estatais
de TV consomem por ano mais
de R$ 400 milhões em recursos
dos impostos. Apesar de gastarem tanto, esses notáveis cabides
de emprego atraem audiência
desprezível. Como costuma
acontecer com veículos dirigidos
sob a lógica da política partidária, do corporativismo e do clientelismo, as TVs estatais brasileiras se transformaram no império da irrelevância.
Uma TV pública interessante,
moderna e dinâmica só terá
chances de vingar no Brasil se tiver autonomia em relação aos
governos. Uma fração dos recursos torrados no sistema estatal
bastaria para lançar uma iniciativa inovadora nesse campo.
O PT e o governo Lula, no entanto, optaram pela marcha a ré.
Sequiosos por deixar gravada sua
marca no telecoronelismo nacional, desejam abrir uma nova sucursal de autopromoção para
acomodar apaniguados, à custa
do erário. A idéia de criar a TV do
Executivo é um despropósito.
Próximo Texto: Editoriais: Derrubar o veto Índice
|