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SERGIO COSTA
Infiltrados
OS REPÓRTERES perguntam
sobre os casos de violência
no Rio e o governador Sérgio Cabral responde como sociólogo, antropólogo, senador, presidente, tudo. Menos como governador, o responsável pela área de segurança do Estado.
Balas perdidas, mortes no sinal,
menino arrastado, ataques à polícia, governador? Tem que mudar a
lei da maioridade penal, incluir os
menores, descriminalizar as drogas, escolher que sociedade nós
queremos, tergiversa.
Muda governo, variam os comandos das polícias e o jeitão das
políticas, mas o mal-estar permanece. O motivo é um só: não se tem
a mínima idéia de como criar uma
política de segurança capaz de
transformar em exceção o que hoje
parece rotina: balas perdidas, mortes no sinal...
O secretário de Segurança, neste
início de gestão, tem sido visto com
freqüência em missas de vítimas da
violência, enterros de policiais ou
manifestações pela paz. É tempo
de luto e ele tem sido solidário, mas
é pouco. Como romper o ciclo que
deixa crianças como a pobre Alana
ou o remediado João Hélio no rumo de uma tragédia?
Se antes da ofensiva das milícias
já estava difícil identificar os limites entre o banditismo e a ação de
certos policiais e políticos, agora ficou quase impossível.
O crime até hoje não esclarecido
de um policial que chefiava a milícia mais antiga do Rio, na favela de
Rio das Pedras, é emblemático. A
viúva acusou um vereador. O vereador foi cabo eleitoral para deputado federal do filho do prefeito
-um entusiasta das ações das milícias. O assassinado, por sua vez, fez
campanha em seus domínios para
o ex-secretário de Segurança e foi
assessor do chefe da Polícia Civil
no fim do governo anterior.
Essas ligações nada provam. O
que impressiona é a desenvoltura
com que certos personagens envolvidos até o pescoço com o submundo transitam por gabinetes de todos os níveis.
Não surpreende que esse crime,
no coração das milícias militantes,
esteja ainda sem solução. Outros
tantos, com menos implicações,
têm o mesmo destino. Os casos se
acumulam e a polícia pouco investiga. Costuma dar respostas somente àqueles que ficam em evidência na mídia.
Nesta semana, o governador do
Rio de Janeiro -acompanhado por
Aécio Neves, de Minas Gerais- vai
à Colômbia em busca de inspiração
para combater a violência. Na volta, poderia tentar separar quem é
polícia e quem é bandido por aqui.
Seria um bom recomeço. Depois,
fica liberado para filosofar à vontade na construção de sua agenda
-digamos- nacional.
sergioqc@uol.com.br
SERGIO COSTA é coordenador da Sucursal da Folha
no Rio.
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