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JOSÉ SARNEY
Março das bodas de prata
DE 15 DE MARÇO de 1985, o
meu sentimento é de dupla
face. Numa, a volta da democracia ao país; na outra, a dor
profunda do martírio de Tancredo
Neves. A história o preparara para
fazer a transição democrática e
inaugurar aquilo que ele mesmo
batizou como slogan de sua campanha: a Nova República.
Costumamos dividir os nossos
períodos históricos em Colônia,
Império, República -que nasceu
de um golpe militar, por isso mesmo batizada por Aristides Lobo de
"sem povo".
A República foi marcada pelas
dores de seu gesto inaugural: divisão militar e instabilidade política,
com o medo da volta da monarquia.
Por não ter suporte popular, foi
obrigada a usar do voto a descoberto, invenção de Campos Sales
-eleição a bico de pena, mandatos
ilegítimos, embora representação
legítima, como dizia Gilberto Amado. É a época das intervenções, da
degola dos parlamentares não alinhados e dos carcomidos, como
eram chamadas as velhas oligarquias provincianas pelos tenentes.
A esse período chamam os historiadores de República Velha.
Ela termina com a Revolução de
30, que começou em 22 com a Revolta dos Tenentes, repicada em
1924 e desaguada em 1930. Depois
é a ditadura, o Estado Novo. Renasce em 1946 a República, efemeramente chamada de Nova República, nome logo esquecido, porque só
a marcará sua desintegração. Vem
1954 com o suicídio de Vargas, o 11
de novembro de 1955, a meteórica
e exótica experiência parlamentarista e seu fim em 1964 com o regime dos generais.
Em 1985, volta a democracia, e a
República, uma vez mais, é batizada de Nova República. Esta realmente marcou a história do Brasil
e hoje está definitivamente incorporada à nossa vida institucional.
Não porque as instituições voltaram, mas porque ela trouxe marcos
novos e definitivos, que foram a entrada em nossos objetivos políticos
dos direito sociais.
A Nova República sepulta as
ideologias e a discriminação sobre
elas. Saímos da hegemonia da
preocupação econômica para uma
democracia social. A convocação
da Constituinte, feita por mim, já
apontava o caminho dos direitos
sociais. A sociedade democrática,
num sistema de capilaridade,
emergiu como a verdadeira cidadania com todos seus direitos.
O lema do governo já revelava a
característica da Nova República:
"Tudo pelo Social". Este o segredo
dos 25 anos de paz social, de
alternância do poder, da presença
do proletariado nas decisões
nacionais.
Quando agora se falar de divisão
da história, dir-se-á que foi a Nova
República que mudou o Brasil, não
somente com a liberdade e as instituições mas com os direitos sociais.
Comemoremos.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras
nesta coluna.
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