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ELIANE CANTANHÊDE
Banho de sangue
BRASÍLIA - Foram 19 assassinatos no Rio e 32 numa universidade
americana, anteontem, e mais 190
no Iraque, ontem. E o Brasil vai entrando, assim, nas estatísticas e nas
notícias mundiais de violência.
Por trás do ataque a estudantes e
professores de uma universidade
da Virgínia, há uma patologia individual e outra coletiva, num país
onde a questão racial é muito arraigada e comprar armas é como ir ali
na esquina comprar picolé.
Por trás do banho de sangue no
Iraque, há uma história de disputas
étnicas e de ditadores cruéis que
afunilou numa invasão estrangeira
que não teve o aval da ONU nem
uma estratégia com começo, meio e
fim. A invasão parou no meio, com
uma guerra civil sem horizontes.
E por trás das quase 20 mortes no
Rio há um fosso social absurdo, um
Estado inepto e elites mesquinhas e
corruptas. A vida e a morte perderam o valor. Mata-se e morre-se por
nada, enquanto a corrupção emerge das polícias, dos tribunais, dos
executivos, dos legislativos. Aos cidadãos comuns cabe apenas correr,
rezar ou tentar se esconder em meras paradas de ônibus.
Hoje, o Congresso deve votar
mais um pacote de "medidas antiviolência", mas do que adianta
aprovar novas leis que se juntarão
às milhares de outras que simplesmente não são cumpridas? E de que
adianta reduzir a idade penal se os
assassinos adultos continuam livres, leves e soltos para matar?
O combate ao crime, aqui, precisa
menos de novas leis e mais de ação:
imediata, para repressão ao crime
organizado e aos "cabeças", e estratégica, para impedir novas organizações e novos criminosos.
A violência no Brasil não tem
fundo racial, nem religioso, nem
ideológico, mas, sim, social. O Iraque virará um filme épico, e a matança de Virginia Tech será sucesso
de bilheteria, como mais um mea-culpa americano, mas a tragédia do
Rio continuará sendo uma triste e
mórbida novela do dia-a-dia.
elianec@uol.com.br
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