São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Banho de sangue

BRASÍLIA - Foram 19 assassinatos no Rio e 32 numa universidade americana, anteontem, e mais 190 no Iraque, ontem. E o Brasil vai entrando, assim, nas estatísticas e nas notícias mundiais de violência.
Por trás do ataque a estudantes e professores de uma universidade da Virgínia, há uma patologia individual e outra coletiva, num país onde a questão racial é muito arraigada e comprar armas é como ir ali na esquina comprar picolé.
Por trás do banho de sangue no Iraque, há uma história de disputas étnicas e de ditadores cruéis que afunilou numa invasão estrangeira que não teve o aval da ONU nem uma estratégia com começo, meio e fim. A invasão parou no meio, com uma guerra civil sem horizontes.
E por trás das quase 20 mortes no Rio há um fosso social absurdo, um Estado inepto e elites mesquinhas e corruptas. A vida e a morte perderam o valor. Mata-se e morre-se por nada, enquanto a corrupção emerge das polícias, dos tribunais, dos executivos, dos legislativos. Aos cidadãos comuns cabe apenas correr, rezar ou tentar se esconder em meras paradas de ônibus.
Hoje, o Congresso deve votar mais um pacote de "medidas antiviolência", mas do que adianta aprovar novas leis que se juntarão às milhares de outras que simplesmente não são cumpridas? E de que adianta reduzir a idade penal se os assassinos adultos continuam livres, leves e soltos para matar?
O combate ao crime, aqui, precisa menos de novas leis e mais de ação: imediata, para repressão ao crime organizado e aos "cabeças", e estratégica, para impedir novas organizações e novos criminosos.
A violência no Brasil não tem fundo racial, nem religioso, nem ideológico, mas, sim, social. O Iraque virará um filme épico, e a matança de Virginia Tech será sucesso de bilheteria, como mais um mea-culpa americano, mas a tragédia do Rio continuará sendo uma triste e mórbida novela do dia-a-dia.


elianec@uol.com.br

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