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EMÍLIO ODEBRECHT
A moral e
o civismo
QUANDO ALGUMAS palavras
começam a sofrer desgaste
pelo uso, é bom que se consultem os dicionários. As palavras
acima, por exemplo.
Moral significa, entre outras coisas, bons costumes, boa conduta,
segundo preceitos coletivamente
estabelecidos. Já civismo é a fidelidade ao interesse público e também é sinônimo de patriotismo.
Isso me ocorreu ao refletir sobre
o papel da escola -complementar
à responsabilidade da família- na
educação para valores de nossas
crianças e adolescentes.
No passado, a educação moral e
cívica era obrigatória no currículo
escolar brasileiro. Foi adotada por
decreto a partir de 1969 e excluída
no fim do período militar.
É compreensível. A disciplina
era identificada com alguns dos
piores aspectos do regime, vista como algo imposto à sociedade civil,
um programa de exaltação ufanista
do país que ignorava nossas mazelas e um entrave à liberdade de crítica no meio estudantil.
Temo, porém, que, ao simplesmente eliminarmos o ensino de
moral e civismo quando da redemocratização, em vez de reformulá-lo para os novos tempos que surgiam, tenhamos incorrido no erro
clássico de jogar fora a criança junto com a água de seu banho.
A reinserção desses conteúdos
no currículo atual de nossas escolas passa, obviamente, pela negação e pelo esquecimento das distorções do passado, porque nosso
olhar deve estar posto no futuro.
O que é inquestionável é a obrigação da escola quanto ao tratamento de temas essenciais à vida
do jovem, como senso de comunidade, espírito de cidadania, a ideia
de que existem limites ao comportamento e de que o convívio em sociedade só é possível quando se
respeita o outro, bem como as leis
que regem tal convívio.
Nossos professores precisam
transmitir mais que a mera instrução: junto com as famílias, devem
ensinar aos alunos valores que os
embasem na construção de suas
próprias visões de mundo.
Um dos males que afetam os
adolescentes de hoje é o relativismo exacerbado com que veem tudo. O ensino de moral e civismo nas
escolas viria combater isso, ao informar que existem sim verdades
sólidas, como a relevância da ação
construtiva voltada para o bem comum e o amor à pátria, ainda que
este não implique a negação da
existência de problemas no Brasil.
Sem ignorar a responsabilidade
que cada um tem por aquilo que é e
faz, penso sim que a volta de uma
disciplina que estimule o debate de
temas como ética e vida em sociedade pode melhorar o caráter de
nossos jovens e, por consequência,
o dos adultos que eles um dia serão.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta
coluna.
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