São Paulo, domingo, 19 de abril de 2009

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EMÍLIO ODEBRECHT

A moral e o civismo

QUANDO ALGUMAS palavras começam a sofrer desgaste pelo uso, é bom que se consultem os dicionários. As palavras acima, por exemplo.
Moral significa, entre outras coisas, bons costumes, boa conduta, segundo preceitos coletivamente estabelecidos. Já civismo é a fidelidade ao interesse público e também é sinônimo de patriotismo.
Isso me ocorreu ao refletir sobre o papel da escola -complementar à responsabilidade da família- na educação para valores de nossas crianças e adolescentes.
No passado, a educação moral e cívica era obrigatória no currículo escolar brasileiro. Foi adotada por decreto a partir de 1969 e excluída no fim do período militar.
É compreensível. A disciplina era identificada com alguns dos piores aspectos do regime, vista como algo imposto à sociedade civil, um programa de exaltação ufanista do país que ignorava nossas mazelas e um entrave à liberdade de crítica no meio estudantil.
Temo, porém, que, ao simplesmente eliminarmos o ensino de moral e civismo quando da redemocratização, em vez de reformulá-lo para os novos tempos que surgiam, tenhamos incorrido no erro clássico de jogar fora a criança junto com a água de seu banho.
A reinserção desses conteúdos no currículo atual de nossas escolas passa, obviamente, pela negação e pelo esquecimento das distorções do passado, porque nosso olhar deve estar posto no futuro.
O que é inquestionável é a obrigação da escola quanto ao tratamento de temas essenciais à vida do jovem, como senso de comunidade, espírito de cidadania, a ideia de que existem limites ao comportamento e de que o convívio em sociedade só é possível quando se respeita o outro, bem como as leis que regem tal convívio.
Nossos professores precisam transmitir mais que a mera instrução: junto com as famílias, devem ensinar aos alunos valores que os embasem na construção de suas próprias visões de mundo.
Um dos males que afetam os adolescentes de hoje é o relativismo exacerbado com que veem tudo. O ensino de moral e civismo nas escolas viria combater isso, ao informar que existem sim verdades sólidas, como a relevância da ação construtiva voltada para o bem comum e o amor à pátria, ainda que este não implique a negação da existência de problemas no Brasil.
Sem ignorar a responsabilidade que cada um tem por aquilo que é e faz, penso sim que a volta de uma disciplina que estimule o debate de temas como ética e vida em sociedade pode melhorar o caráter de nossos jovens e, por consequência, o dos adultos que eles um dia serão.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.


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