São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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VALDO CRUZ

Arco-íris do preconceito

BRASÍLIA - Um constrangido Fernando Henrique Cardoso segurava, na semana passada, uma bandeira com as cores do arco-íris durante cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos.
Símbolo do movimento gay, a bandeira havia sido entregue ao presidente por um militante. Era um agradecimento por FHC ter defendido o projeto que legaliza a união civil entre homossexuais.
Bem perto dali, no Congresso Nacional, o gesto presidencial causou calafrios na bancada do preconceito, que acusou FHC de estar "institucionalizando a homossexualidade e a promiscuidade" no país. Um absurdo, mas que pega.
De forma enrustida, até aliados de FHC desaprovaram seu apoio à união civil gay. Ato, na visão deles, de político em final de carreira, que não depende mais de votos.
Um deles, por sinal, correu das emissoras de TV que queriam entrevistá-lo sobre a tramitação do projeto, no Congresso desde 95. Afinal, há uns 15 dias, ouviu um alerta de um líder religioso: "Sabe aquele projeto da união gay? Se você votar a favor dele, seus 10 mil votos vão virar cem".
De autoria da então deputada Marta Suplicy (PT), o texto está pronto para ser votado no plenário da Câmara. Mas nunca entra em pauta, porque a turma do contra sempre consegue barrar.
Usam argumentos frágeis, como a velha história de que o país tem problemas demais a serem resolvidos. Realmente tem. Mas, se formos aguardar a solução de todos os problemas mais sérios, o preconceito continuará predominando.
Há alguns anos, por sinal, falou-se muito que a estabilidade econômica dos anos FHC faria o debate eleitoral se deslocar para temas mais sociais, de direitos humanos, de comportamento, começando a resgatar as minorias de seus guetos.
Que nada. A economia continua o centro das atenções eleitorais. Já assuntos como união gay permanecem tabus no Brasil do século 21. Os amigos de FHC que o digam.



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