São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O outro terrorismo!

O presidente George W. Bush deve ter decepcionado o seu povo ao perder de vista o autor intelectual dos atentados de 11 de setembro de 2001, apesar de toda a parafernália militar que mobilizou para a caça de Bin Laden. Mais decepcionados ficaram os americanos ao saberem que Bush fora avisado pela CIA a respeito dos atentados.
Frustrado com esses fracassos, o presidente decidiu ele mesmo patrocinar uma grande onda de terrorismo, dessa vez no campo comercial. Sem quê nem para quê, passou a taxar as importações de aço com alíquotas crescentes, a última delas atingindo em cheio o Brasil, que exporta para os Estados Unidos aços planos de boa qualidade e produzidos com insuperável eficiência.
Como se isso não bastasse, Bush partiu para um ataque frontal contra os produtores mundiais de soja, de milho e de outros produtos agrícolas ao enviar para o Congresso americano a monstruosa "farm bill", que castiga sem piedade os fazendeiros brasileiros. Os subsídios para a agricultura americana ficarão mais altos do que os praticados pela União Européia -lembrando-se que 75% dos recursos do governo serão abocanhados pelos grandes fazendeiros.
Por que tanto terrorismo? Só para pagar dívidas eleitorais com siderúrgicas ultrapassadas e com fazendeiros lobistas? Isso é demais!
Não bastassem esses ataques, vêm agora as agências de avaliação de risco recomendar aos investigadores que se afastem do Brasil. Nós, brasileiros, sempre abrimos as portas para o capital estrangeiro que aqui veio para produzir e criar empregos. Fomos generosos ainda com os que aqui chegaram para explorar as nossas obscenas taxas de juros. É só surgir no "front" algum fato de que eles venham a não gostar e disparam a disseminação do pânico no mercado financeiro.
O Brasil não pode ficar passivo diante dessas indecentes investidas. Que tal disseminar nos Estados Unidos a verdade, ou seja, que os consumidores americanos vão pagar mais caro pelos automóveis, pelos tratores, pelas máquinas e por tudo o que usa aço assim como pelos alimentos industrializados que usam soja, milho, trigo etc.?
Sei bem que a arena oficial para a discussão dessas questões é a Organização Mundial do Comércio. Mas o presidente George W. Bush não consultou a OMC antes de detonar os seus ataques. Tampouco as agências de risco consultaram o FMI ou o Banco Mundial antes de abrirem a sua mala de boatos.
Os americanos, que sempre premiaram a eficiência, provavelmente rejeitarão o patrocínio da ineficiência. E, do nosso lado, se estão surgindo novos tipos de terrorismo -o comercial e o financeiro-, mais do que nunca temos de nos unir, trabalhar duro e encontrar, com os ministros responsáveis pelo comércio internacional, os métodos para superar esse grande desafio.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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