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CLÓVIS ROSSI
Os anões e a elite
SÃO PAULO - Você tem a certeza de que um país perdeu definitivamente
o rumo quando até algumas de suas
melhores e mais bem-intencionadas
cabeças não conseguem produzir
propostas minimamente viáveis.
É o caso do admirável grupo que escreveu para a Folha de ontem, encabeçado pelo único brasileiro que merece estátua em vida, o professor Goffredo Telles Júnior.
Essa brava e boa gente afirma que a
primeira providência para "coibir
imediatamente o surto de violência"
seria "a reestruturação completa
-de cima a baixo- do aparelho repressivo do Estado".
Perfeito. Pena que inexeqüível,
mais ainda no curto prazo. Levaria
séculos para extirpar a banda podre
da polícia e mais séculos ainda para
tornar atraente a profissão de policial ou equivalente.
Se é assim com os gigantes, é natural que os anões que compõem o
mundo político brasileiro nada tenham a dizer que valha a pena ler.
Anões que começam com o presidente da República, passam pelo ex-governador de São Paulo e seu principal adversário eleitoral e terminam
no ex-intelectual do PT, agora ministro, Tarso Genro.
Anões que só pensam em minimizar o prejuízo eleitoral eventual com
os episódios de São Paulo e/ou passar
a culpa para o outro bando.
Anões que só pensam em ocupar ou
manter o poder. A população que se
vire como puder, se puder.
No meio dos anões, emerge com a
análise correta o governador Cláudio
Lembo ao culpar a mesquinharia da
"elite branca" pela crise. Sim, foi essa
elite que fez todos os governantes dos
últimos 500 anos, que depôs os que
pareciam contrariá-la, ainda que tivessem idêntico berço, e que, passada
a moda da deposição, cooptaram os
que originalmente a ela não pertenciam, caso específico de Luiz Inácio
Lula da Silva.
Pena que Lembo seja a prova definitiva da mesquinharia da elite: só
descobriu seus podres agora que está
no ocaso. Antes, passou a vida a serviço dela, gostosa e gloriosamente.
Pobre país.
@ - crossi@uol.com.br
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