São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Os anões e a elite

SÃO PAULO - Você tem a certeza de que um país perdeu definitivamente o rumo quando até algumas de suas melhores e mais bem-intencionadas cabeças não conseguem produzir propostas minimamente viáveis.
É o caso do admirável grupo que escreveu para a Folha de ontem, encabeçado pelo único brasileiro que merece estátua em vida, o professor Goffredo Telles Júnior.
Essa brava e boa gente afirma que a primeira providência para "coibir imediatamente o surto de violência" seria "a reestruturação completa -de cima a baixo- do aparelho repressivo do Estado".
Perfeito. Pena que inexeqüível, mais ainda no curto prazo. Levaria séculos para extirpar a banda podre da polícia e mais séculos ainda para tornar atraente a profissão de policial ou equivalente.
Se é assim com os gigantes, é natural que os anões que compõem o mundo político brasileiro nada tenham a dizer que valha a pena ler. Anões que começam com o presidente da República, passam pelo ex-governador de São Paulo e seu principal adversário eleitoral e terminam no ex-intelectual do PT, agora ministro, Tarso Genro.
Anões que só pensam em minimizar o prejuízo eleitoral eventual com os episódios de São Paulo e/ou passar a culpa para o outro bando.
Anões que só pensam em ocupar ou manter o poder. A população que se vire como puder, se puder.
No meio dos anões, emerge com a análise correta o governador Cláudio Lembo ao culpar a mesquinharia da "elite branca" pela crise. Sim, foi essa elite que fez todos os governantes dos últimos 500 anos, que depôs os que pareciam contrariá-la, ainda que tivessem idêntico berço, e que, passada a moda da deposição, cooptaram os que originalmente a ela não pertenciam, caso específico de Luiz Inácio Lula da Silva.
Pena que Lembo seja a prova definitiva da mesquinharia da elite: só descobriu seus podres agora que está no ocaso. Antes, passou a vida a serviço dela, gostosa e gloriosamente. Pobre país.

@ - crossi@uol.com.br


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