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ALBA ZALUAR
Macro erros
Políticas macroeconômicas são,
sem dúvida, mais universais e
mais democráticas porque
têm a capacidade de beneficiar toda a nação. No entanto, quando
concebidas equivocadamente, com
base em premissas falsas, erros de
diagnóstico ou manipulação para
esconder seu caráter exclusivista,
provocam desastres incomensuráveis e de longa duração.
São sempre lembrados, para
ilustrar os macro erros, os milhões
de mortos na antiga União Soviética e na China, em conseqüência da
coletivização forçada nos campos e
uma tentativa de industrialização
rural. Em vez dos 20 passos à frente, centenas para trás.
Mas não são apenas os regimes
fechados que cometem tais façanhas. Aqui no Brasil, temos o desastre dos trilhos e dormentes esquecidos, inutilizados. Nos anos
1970 era moda ter dormentes como pés de mesa. E os poucos trens
que nos restaram foram perdendo
rapidez e encanto. Durante os 20
anos em que trabalhei na Unicamp,
esperei ansiosa pelo trem-bala que
nunca ligou Campinas às duas
maiores cidades brasileiras.
Pior foi acompanhar o desmonte
da promessa de mobilização e participação democrática contida nas
organizações vicinais. Pior ainda, a
transformação dos sindicatos de
trabalhadores, cujos líderes de períodos mais heróicos eu tinha
aprendido a admirar, para um estilo de pragmatismo e oportunismo
que mudou completamente a imagem dos líderes. Claro que a cobrança do imposto (forçado) sindical só reforçou este estilo e permitiu o surgimento de chefes sindicais mais interessados na sua riqueza pessoal do que nos trabalhadores que comandam.
As promessas de sociedade organizada e participante, com eficácia
coletiva para controlar e atenuar os
conflitos violentos e destrutivos,
formadas em gerações anteriores,
são como os trilhos sociais, abandonados no meio do caminho,
quando mais se precisava deles. E
levam gerações para serem mais
uma vez construídos e voltarem a
proporcionar os fluxos da interação social necessária à cidadania. É
mais rápido construir estradas de
ferro.
Decisões para favorecer grupos
específicos podem ser também
fonte de grande perturbação institucional e perda de legitimidade.
As políticas focais se justificam
quando ajudar o grupo focado vai
terminar por trazer melhorias a
muitos outros, como acontece
quando se amparam os idosos, as
crianças, os jovens vulneráveis, as
mulheres chefes de família pobres.
Mas o foco pode se tornar simplesmente privilégio para poucos
quando não há justificativa para o
apoio recebido. É o que parece estar ocorrendo na nova política econômica anunciada. Mais um desastre?
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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