São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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RUY CASTRO

Peripécias da pílula

RIO DE JANEIRO - De repente, 50 anos da pílula -no começo, chamada de anticoncepcional; logo depois, de pílula, apenas. O ano-base pode ter sido 1960, mas ela só seria comercializada em meados da década. E, quando isso aconteceu, dividiu a vida em antes e depois. As mulheres passaram a deter o controle sobre a reprodução, e os homens tiveram de mudar a cabeça e o comportamento. Para melhor.
Pois, mesmo assim, as feministas do Terceiro Mundo ficaram contra a pílula. Ela faria parte de uma conspiração do imperialismo americano para despovoar países como o Brasil, o México, Uganda ou o Haiti e permitir sua ocupação pelos EUA. Para evitar isso, segundo as feministas brasileiras, cada mulher deveria ter dez filhos, embora elas próprias, muito ocupadas, tivessem poucos ou nenhum.
Então vieram os anos 70 e, quando se convenceram de que os EUA não precisavam zerar a população de Xique-Xique ou Quixeramobim para saquear nossas riquezas, as feministas enxergaram na pílula o instrumento da emancipação profissional e sexual da mulher. Mas, aí, com dez anos de bola em jogo, começaram a aparecer certos efeitos colaterais da pílula, e isso as colocou de novo contra ela.
Sim, por que só as mulheres pagariam a conta? -perguntavam. Afinal, se os homens também se beneficiavam, por que não se inventava a pílula do homem? O fato é que os cientistas arregaçaram as mangas nesse sentido, inclusive na China, mas não sei no que deu. Só sei que, um dia, as feministas se tocaram para o óbvio: se os homens tivessem uma pílula para si, retomariam o poder sobre a reprodução e voltaríamos ao século 13. Daí decidiram deixar as coisas como estavam.
E, justo ao contrário do que elas temiam, a população do Terceiro Mundo nunca cresceu tanto quanto depois da pílula.


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