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RUY CASTRO
Peripécias da pílula
RIO DE JANEIRO - De repente,
50 anos da pílula -no começo, chamada de anticoncepcional; logo depois, de pílula, apenas. O ano-base
pode ter sido 1960, mas ela só seria
comercializada em meados da década. E, quando isso aconteceu, dividiu a vida em antes e depois. As
mulheres passaram a deter o controle sobre a reprodução, e os homens tiveram de mudar a cabeça e o
comportamento. Para melhor.
Pois, mesmo assim, as feministas
do Terceiro Mundo ficaram contra
a pílula. Ela faria parte de uma
conspiração do imperialismo americano para despovoar países como
o Brasil, o México, Uganda ou o
Haiti e permitir sua ocupação pelos
EUA. Para evitar isso, segundo as
feministas brasileiras, cada mulher
deveria ter dez filhos, embora elas
próprias, muito ocupadas, tivessem
poucos ou nenhum.
Então vieram os anos 70 e, quando se convenceram de que os EUA
não precisavam zerar a população
de Xique-Xique ou Quixeramobim
para saquear nossas riquezas, as feministas enxergaram na pílula o
instrumento da emancipação profissional e sexual da mulher. Mas,
aí, com dez anos de bola em jogo,
começaram a aparecer certos efeitos colaterais da pílula, e isso as colocou de novo contra ela.
Sim, por que só as mulheres pagariam a conta? -perguntavam. Afinal, se os homens também se beneficiavam, por que não se inventava a
pílula do homem? O fato é que os
cientistas arregaçaram as mangas
nesse sentido, inclusive na China,
mas não sei no que deu. Só sei que,
um dia, as feministas se tocaram
para o óbvio: se os homens tivessem
uma pílula para si, retomariam o
poder sobre a reprodução e voltaríamos ao século 13. Daí decidiram
deixar as coisas como estavam.
E, justo ao contrário do que elas
temiam, a população do Terceiro
Mundo nunca cresceu tanto quanto
depois da pílula.
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