|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
"Os livro"
Há notório exagero na polêmica
deflagrada pela revelação de que
um livro didático adotado pelo Ministério da Educação (MEC) admite o emprego de expressões erradas, do ponto de vista gramatical,
dependendo do contexto em que
são utilizadas.
"Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado." Segundo a obra "Por Uma Vida Melhor",
distribuída a alunos jovens e adultos de 4.236 escolas do país, uma
frase como essa pode ser empregada, embora o estudante seja ali
advertido de que, ao fazê-lo, "corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico".
Há muito que a norma culta -o
padrão estabelecido por gramáticos e lexicógrafos, que nem sempre, aliás, se põem de acordo-
deixou de ter valor absoluto. O
substrato real de toda língua está
na fala popular, que evolui ao longo do tempo e impõe, cedo ou tarde, mudanças na norma que se
convencionou ser a correta.
Em contexto oral, coloquial ou
literário, admitem-se variações
definidas como erradas pelo padrão gramatical. Esse padrão configura apenas um conjunto de
convenções que assegura lógica
ao funcionamento do idioma, ainda que suas regras sejam eivadas
de exceções e anomalias.
Daí não decorre, porém, que a
norma culta seja um parâmetro
inútil ou preconceituoso. Trata-se
de um lastro, que também evolui
no tempo, cujo sentido é tornar a
língua estável e previsível; sem tal
garantia, as variações cresceriam
de forma desordenada até inviabilizar a própria comunicação.
Além disso, o aprendizado da
norma culta faz parte da disciplina intelectual que deveria ser estimulada em qualquer estabelecimento de ensino. Aprender custa
tempo e esforço.
O episódio, que faz lembrar as
ferozes controvérsias gramaticais
da República Velha (1889-1930), é
menos relevante em si do que pelo
que reitera em termos de mentalidade pedagógica.
De algumas décadas para cá, a
pretexto de promover uma educação "popular" ou "democrática",
muitos educadores dedicam-se a
solapar toda forma de saber implicada no repertório de conteúdos
que a humanidade vem acumulando ao longo das gerações.
Em vez da revolução pedagógica que apregoam, o resultado tem
sido a implantação despercebida
da lei do menor esforço nas escolas. Estuda-se pouco e ensina-se
mal. Isso -e não suscetibilidades
gramaticais- é o que deveria
preocupar.
Texto Anterior: Editoriais: São Paulo sem Copa Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Decodificando Palocci Índice | Comunicar Erros
|