São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Nelson Werneck Sodré

RIO DE JANEIRO - Entre os centenários que, neste ano, estão sendo comemorados, destaco o de um dos homens que mais me impressionaram pela sua cultura e dignidade.
Não o conhecia pessoalmente, mas lia os seus livros com prazer e proveito. Logo no início da quartelada de 1964, estava preso numa das fortalezas da Guanabara, fora dos primeiros a ser punido pelos seus colegas de farda, pois se tratava de um general cujo pensamento desagradava aos homens que haviam tomado o poder.
Todos os que o conheceram tinham a certeza de que era um dos homens mais íntegros de nossa paisagem intelectual. Podiam discordar dele, mas sabiam que Nelson Werneck Sodré (1911-99) colocava, acima de tudo, a dignidade do ser humano, a sua e a dos outros. Sua obra abrange três segmentos interativos pela sua cultura de fundo humanístico: a literatura, a sociologia e a história. Foi mestre nos três departamentos.
Tornou-se citação obrigatória de todos os pesquisadores que estudam o processo brasileiro como um todo, e não em seus departamentos estanques.
Um texto de Nelson Werneck Sodré sobre Machado de Assis ou sobre um dos nossos ciclos econômicos se destaca pela abrangência de sua visão. Conhecia o geral e chegava ao particular. Sabia ver a árvore e a floresta.
Um dos líderes mais respeitados da nossa intelectualidade, nunca se deixou fascinar pela badalação inconsequente de certa época, nem pelo radicalismo carreirista que marcou a carreira de tantos. Nunca deixou de ser um ponto de referência do pensamento brasileiro. Teórico do nacionalismo, jamais se tornou xenófobo.
Recusou cargos, compensações e homenagens. Viveu austeramente. Formava o escalão mais consciente da esquerda que ele procurou ensinar, explicar e pela qual sacrificou sua vida.


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