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ANTONIO DELFIM NETTO
Mercado inquieto
As incertezas e a consequente
volatilidade que se abateram sobre o mercado financeiro nas últimas
semanas têm múltiplas causas, às
quais não são estranhas as dificuldades de financiamento da dívida pública. Certamente a operação "casada"
LFT e "swap" cambial não produziu o
resultado esperado (a redução permanente do custo da dívida), mas introduziu um desequilíbrio no mercado.
Este, por sua vez, levou o Banco Central a exigir a imediata marcação pelo
mercado dos fundos, o que aumentou
o deságio do papel e impôs sérios prejuízos aos bancos. A decisão foi correta, porque a experiência mostra que,
cada vez que se cria uma oportunidade, os espertos (que são os "experts")
tungam os investidores honestos.
Mas há também outros motivos: o
crescimento do PIB será pequeno, e
não há muito espaço para uma redução substancial da taxa de juro real,
dois fatores que aumentam a preocupação dos credores em relação a uma
dívida interna líquida da ordem de
55% do PIB. A primeira estimativa de
variação do PIB entre o primeiro trimestre de 2001 e o mesmo período de
2002 foi de uma queda da ordem de
0,73%. Em 2001, houve um aumento
importante no segundo trimestre em
relação ao primeiro (3,1%), mas o
quarto trimestre (revelando as consequências da barbeiragem energética)
registrou uma queda de 3,4%.
O que se pode esperar do PIB de
2002 diante das dificuldades de financiamento da dívida, da flutuação do
dólar, do nível de juros e das incertezas eleitorais? É muito difícil dizer,
porque, a rigor, nenhuma previsão
tem fundamento pelo simples fato de
que as séries de tempo não costumam
contar histórias em que o futuro está
escondido no passado à espera de ser
encontrado. Pode-se, entretanto, formular algumas hipóteses heróicas e
verificar o que acontece. A tabela abaixo simula o crescimento do PIB para
cada trimestre de 2002 em relação ao
seu homólogo de 2001.
Para chegar a 2,5% de crescimento
do PIB em 2002, seria preciso encontrar a economia rodando a 6% no final
do ano quando comparada com 2001.
Não é impossível, mas parece altamente improvável.
E, com relação à taxa de juro real, o
que se pode esperar? Hoje, estamos
com 18,5% de taxa Selic, e a "expectativa de inflação" é de 6%, o que nos
deixa com uma taxa real da ordem de
12%. Se ela for reduzida a 16% e se a inflação caminhar para os 5,5% estimados, teremos uma taxa de 10%.
Ora, um crescimento real do PIB de
2% e uma taxa real de juro de 10% sugerem que, para manter a relação dívida pública líquida/PIB em 55%, precisaremos de mais de 4% de superávit
primário, o que é altamente improvável. É isso o que perturba o credor, que
entra em pânico quando ouve falar
em "alongamento da dívida" -mesmo quando feito com política "amiga
do mercado". Tal alongamento estava
sendo bem-feito, mas foi agora perdido por culpa do "terrorismo" político
feito pelo próprio governo.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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