São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Para um Brasil próspero

CHARLES TANG


Na China, o crescimento trouxe estabilidade, enquanto no Brasil a nossa "estabilidade" gerou estagnação e dívidas


O BRASIL REÚNE mais condições do que a China ou o Japão para ser o maior "tigre" de exportações e para tornar-se superpotência econômica. O nosso país só não atingiu ainda o seu destino de grandeza por falta de uma visão política que leve à criação de um plano de prosperidade para a nação e também por falta de conhecimento da ciência de desenvolvimento econômico.
Há décadas, praticamos um modelo econômico de pobreza que recorre a juros exorbitantes para impedir qualquer tentativa de crescimento econômico.
Assim, em 2005, mesmo ante o amplo cenário favorável da economia mundial e da demanda chinesa, só conseguimos superar a taxa de crescimento econômico do Haiti, e isso por encontrar-se este país em estado de guerra civil.
As nações que se livraram da pobreza e se desenvolveram compreenderam que a maior responsabilidade e obrigação de seus governantes é a de gerar o bem estar econômico e social do seu povo. Foi a partir de decisões políticas de prosperidade é que foram criados planos de reestruturação econômica e adotado um modelo econômico de riqueza.
A maior conquista de direitos humanos na história da humanidade -a inserção na vida econômica chinesa de 400 milhões de pessoas tiradas da pobreza para viver com mais dignidade -foi resultado de uma dessas decisões políticas.
Para que o Brasil possa crescer, o primeiro quesito é a adoção de um plano capaz de romper os mitos que nos têm escravizado. O reconhecimento de que altas taxas de crescimento econômico podem perfeitamente conviver com estabilidade monetária, níveis de juros civilizados e redução em nossa variedade exótica de impostos escorchantes, promoverá uma mudança em nossa visão de prioridades. Na China, o crescimento trouxe estabilidade, enquanto no Brasil a nossa "estabilidade" gerou estagnação e dívidas.
Temos que renovar nossas estruturas burocrática, trabalhista, fiscal, de educação, de saúde e jurídica, as quais parecem haver sido propositadamente desenhadas para impedir nosso avanço. O exemplo de outras nações, como China, Índia e os chamados "tigres asiáticos" demonstra quão necessária é essa visão para tornar prioritária a política de prosperidade.
Nossa viciosa preferência por reformas parciais de pouco impacto sempre tentou equacionar a distribuição eqüitativa da nossa pobreza e ignora que o maior problema brasileiro é a nossa incapacidade de gerar riqueza.
Se obtivermos taxas dignas de crescimento, com um PIB correspondente à nossa grandeza, com reservas em divisas e atração de investimentos diretos estrangeiros como a China conseguiu -e já avança a casa do US$ 1 trilhão em cada modalidade- teríamos os recursos de sobra para sanar nossos problemas.
Dentro do nosso atual modelo econômico errado, já tomamos todas as medidas possíveis da prescrição clássica. Torna-se necessária uma reestruturação econômica, com um plano de crescimento divorciado dos fracassados intentos reformadores das últimas décadas.
O mito de que politicamente seria impossível realizar essa necessária reestruturação contraria o passado vivenciado, em que nossos políticos jamais questionaram uma vírgula dos malfadados planos e pacotes que foram implementados. Isso porque esses eram tidos como indispensáveis à salvação da nação e é politicamente difícil ser contra a salvação nacional.
Ao contrário, muito teria a lucrar o político que entendesse como o povo brasileiro é patriota e disciplinado, disposto a apoiar e aceitar qualquer sacrifício, a fim de alimentar a esperança de dias melhores.
A remoção das barreiras autocriadas e do "custo Brasil" já aliviaria enormemente o peso de que nos ressentimos em matéria de competitividade internacional. Nessa reestruturação para o crescimento econômico, a nossa classe empresarial, que tem dado provas de capacidade, criatividade e ousadia, se tornaria competitiva no mercado internacional, a fim de trazer as divisas necessárias à formação da nossa riqueza.
Muito mais do que salvaguardas, o que a indústria nacional requer são condições necessárias para a competitividade. Assim, poderíamos utilizar o nosso domínio da Teoria de Chicago para administrar a nossa riqueza, ao invés de sermos admirados pela excelente administração monetarista de pobreza que temos praticado.

CHARLES A. TANG é presidente da Câmara de Comércio & Indústria Brasil-China e membro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.


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