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O básico na indústria
Produção fabril aumenta graças a investimentos do passado, mas país arrisca seu futuro ao não agregar setores de ponta
A INDÚSTRIA instalada no
Brasil cresceu na última década, mas a sua
produção ficou mais
pobre em tecnologia. Essa conclusão, publicada no domingo
pela Folha com base em dados
do IBGE, tanto revela êxito como suscita preocupação.
Atividades associadas ao petróleo, à mineração e à agropecuária concentraram o dinamismo industrial do período. Elas
ganharam força a partir de meados de 2002, estimuladas no início por uma forte desvalorização
do real -mas sobretudo por um
longo ciclo de crescimento econômico global.
Esses segmentos fabris, bem
como os setores primários a que
correspondem, jogaram papel
decisivo na estabilização das
contas externas brasileiras. Isso
não aconteceu apenas porque o
país possui vantagens comparativas naturais nesses segmentos.
Tratou-se da maturação de um
ciclo de investimentos -quase
todos iniciados pelo Estado, com
altíssimos custos fiscais e baixa
transparência-, de acúmulo de
capacidade empresarial e de ganhos tecnológicos.
Ocorre que esse sucesso relativo em atividades mais diretamente ligadas ao setor primário
não pode servir como argumento para que o país desista de buscar seu nicho na ponta da tecnologia mundial. Tampouco justifica acomodação diante dos sinais
preocupantes de perda de competitividade de indústrias tradicionais aqui instaladas.
A respeito desse segundo aspecto, a valorização do real só
veio agravar problemas estruturais que dão larga vantagem ao
competidor estrangeiro diante
do nacional. A infra-estrutura
precária, os altos custos fiscais e
trabalhistas, a lentidão da burocracia prejudicam com mais virulência os setores que mais empregam. Não causa surpresa,
portanto, que a modesta aceleração da economia ora verificada
não se faça acompanhar de alívio
compatível no desemprego.
Mais grave, no entanto, é a falta de perspectivas para o parque
industrial brasileiro no sentido
de agregar setores de ponta. À
diferença da Ásia emergente, o
Brasil não atraiu empreendimentos relevantes, não desenvolveu capacidade de alçar vôo
próprio nem se tornou competitivo em nenhum ramo industrial
importante da chamada revolução digital.
Aqui, as carências básicas da
economia brasileira (o chamado
custo Brasil) se associam à falta
de mobilização de recursos públicos e privados em empreendimentos de maior risco, em educação e em inovação. Não há
projeto para corrigir essa rota.
A competência que o país adquiriu ao explorar seus recursos
naturais é um trunfo importante. Mas não basta para suprir as
necessidades de desenvolvimento de uma nação de 190 milhões
de habitantes, onde mais de metade das famílias passa o mês
com no máximo um salário mínimo per capita.
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