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FERNANDO GABEIRA
Pra lá de Teerã
RIO DE JANEIRO - Até agora, não
consigo explicar a posição de Lula
sobre o Irã. Por que se precipitar e
dizer que as manifestações eram
brigas de vascaínos contra flamenguistas? Naquele momento, os
principais líderes mundiais sinalizaram preocupação e cautela. As
apurações iranianas, que levam
uma semana para serem tabuladas,
foram resolvidas em horas. Em
Tabriz, terra de Mousavi, Ahmadinejad ganhou longe, o que não
costuma acontecer.
Esses dados já estavam disponíveis. Depois da declaração, vieram
outros mais embaraçosos: em mais
de 30 cidades, o número de eleitores superou o de inscritos. Em Taft,
o número de eleitores, segundo a
oposição, elevou-se a 141 por cento:
fantasmas.
Não era necessário manifestar
simpatia pela oposição. Simplesmente cautela. Tanto o presidente
como o Itamaraty não receberam
bem as críticas sobre a visita de
Ahmadinejad. Aproveitaram para
dizer que a visita estava de pé. E para mostrar independência em relação à imprensa ocidental. Se ela diz
uma coisa, pode ser que esteja
acontecendo outra.
O Brasil quer se mostrar pragmático, disposto a tudo por um bom
negócio. Mesmo bons negociantes a
quem se pede, a todo instante, o sacrifício de princípios precisam saber se calar.
Não havia grandes mudanças em
gestação. No Irã, às vezes, o resultado das urnas pode ser sufocado pela
revolução. Mas alinhar-se aos setores mais conservadores, considerar
uma luta, que depois resultaria em
mortes, como um simples choque
de torcidas, é qualquer coisa pra lá
de Teerã.
Os iranianos que fazem seu movimento também pela internet sabem que nem todos no Brasil se alinham, nesse caso, à posição de Lula.
Muitos relógios estão sintonizados
com a hora de Teerã: +3:30 GMT.
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