São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Volta ao jogo, Brasil

SÃO PAULO - A diplomacia brasileira passou da hiperatividade no governo anterior à passividade no atual. Saiu do campo para resmungar na arquibancada
O caso da crise no Grande Oriente Médio chega a ser gritante pela inconsequência das posições brasileiras no Conselho de Segurança da ONU. Primeiro, votou a favor da imposição de sanções ao regime do coronel Muammar Gaddafi, que incluíam levá-lo ao Tribunal Penal Internacional em Haia. Fez muito bem. O tribunal de Haia é o destino adequado para "serial killers" como o ditador líbio.
Mas, em seguida, o Brasil se absteve na votação da zona de exclusão aérea sobre a Líbia, o que implicava, como é óbvio, atacar as forças de Gaddafi. Fez muito mal.
Afinal, se há um regime que merece ser julgado por genocídio, como o Brasil achava que havia ao votar a favor da primeira resolução, o lógico e natural é que se faça tudo para depor o ditador.
Em nenhum momento o Brasil disse o que se deveria fazer, fora a intervenção da ONU, para impedir um massacre, então iminente, na capital rebelde de Benghazi.
Agora, o Itamaraty fica resmungando sobre supostos segundos pensamentos dos países que aprovaram a resolução. Pode até haver, como seria natural em situações de sangue, mas não impedem que mesmo os que se abstiveram atuem em campo. A China, por exemplo, já está negociando com o Conselho Nacional de Transição, o governo rebelde. Não quer perder negócios com a Líbia do futuro.
No caso da Síria, idem. O Brasil trabalha para uma declaração água com açúcar indigna de uma situação dramática. A Turquia, parceira do Brasil na aventura iraniana, oferece seu território para uma reunião dos líderes da oposição.
Resmungar na arquibancada não tem custo, mas não é a melhor política para quem pretende ser ator internacional relevante.

crossi@uol.com.br


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