São Paulo, domingo, 19 de junho de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

Contra meus hábitos

RIO DE JANEIRO - Como escrevi na crônica anterior, sou incapaz de extrair um recado na carta que dona Dilma dirigiu a FHC. Li considerações profundas a respeito, mas fiquei fiel à minha obtusidade hereditária e -como diria Nelson Rodrigues- vacum.
Considerei o documento digno e leal, uma vez que o ex-presidente, ao completar 80 anos, merece tudo o que dona Dilma disse sobre ele. E digo mais: nos oito anos de seu mandato, pelo menos duas vezes por semana eu o criticava, às vezes asperamente.
Mas sua conduta, após a Presidência da República, tem sido exemplar. Nem tudo o que ele faz e diz agrada aos adversários, mas, no geral, comporta-se com grandeza. Despojado agora da ambição eleitoral, ele reencontrou o tom acadêmico que o tornou famoso, com capacidade de motivar a sociedade em torno de temas polêmicos que exigem discussão aberta.
O caso da descriminação das drogas e da liberação da maconha revelou sua coragem e isenção. Considerando que o assunto ainda está verde para um debate no Legislativo, ele se jogou na campanha de esclarecimento social que poderá levar a discussão ao patamar legal e final, que é o Congresso, do qual não mais faz parte.
Louvo também o artigo de Janio de Freitas sobre "sigilo sem segredo", em que lembra o grande jornalista que foi Gondim da Fonseca, que revelava pesquisas proibidas na época, até mesmo alguns lances sigilosos que depunham contra a glória de Caxias. Gondim sumiu misteriosamente, até que foi encontrado num quartel sem julgamento formado, ou seja, foi sequestrado.
Ele foi o primeiro a ter uma seção na imprensa em que criticava os jornais, mas sempre com bom humor e boa causa. É autor, também, de uma excelente tradução do poema "O corvo", de Edgar Allan Poe, que o crítico Ivo Barroso lançou recentemente.


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