São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

Próximo Texto | Índice

Fusão empresarial

Plano de formar gigante brasileira de alimentos faz sentido; Estado deve evitar danos pontuais aos interesses do consumidor

A SADIA acaba de efetuar uma proposta de aquisição da Perdigão. Juntas, detêm cerca de 25% do abate de frangos e suínos. Em alguns segmentos, como presunto, pizza congelada e pratos prontos, a participação de ambas supera os 60%.
Trata-se das maiores e mais bem-sucedidas empresas nacionais no setor de alimentos. A Sadia profissionalizou a gestão e desenvolveu um eficiente modelo de cadeia integrada de fornecedores, com um sistema de disseminação de inovações, sobretudo, na cadeia do frango. Além disso, aperfeiçoou suas ferramentas de logística, para atingir o mercado doméstico e, posteriormente, o internacional.
A Perdigão, por sua vez, provém de uma reestruturação desencadeada pelo mercado de capitais. Fundos de pensão brasileiros assumiram o controle da empresa e contrataram um executivo profissional que lhe imprimiu um novo rumo.
Agora o objetivo estratégico das empresas parece ser a criação de uma corporação de capital aberto, gestão profissionalizada, procurando consolidar os avanços conquistados individualmente. A operação, se concluída, dará origem a uma grande multinacional brasileira -segunda exportadora de frangos do planeta.
A oferta de controle acionário segue as regras do Novo Mercado da Bovespa, onde são transacionadas as ações da Perdigão. De acordo com as normas desse segmento de negócios, ao receber uma oferta por mais de 20% das ações, o interessado terá de estendê-la aos 80% restantes. A Sadia já está no Nível 1 da Bolsa, o inicial em termos de governança corporativa. A empresa planeja escalar os degraus seguintes, para o que há a obrigatoriedade de as ações serem todas ordinárias (que dão direito a voto).
Para efetuar a oferta de controle acionário da Perdigão, a Sadia obteve carta de crédito bancária, garantindo a totalidade do financiamento -um montante de R$ 3,7 bilhões, pelo prazo de até dois anos, período em que a empresa buscará alternativas de refinanciamento. Entre as opções estão emissão de ações, pré-pagamento de exportações, bônus perpétuo e debêntures conversíveis.
Do ponto de vista da estratégia empresarial, sem entrar no mérito do preço da operação (item que cabe apenas às partes diretamente interessadas tratar), o negócio faz sentido. A fusão pode fortalecer as empresas, expandir a produção, diminuir os custos e melhorar a capacidade de concorrer, sobretudo no mercado externo. Ademais, a operação revela um aprofundamento do mercado de capitais doméstico, bem como do sistema de crédito.
No entanto, se a fusão de fato ocorrer, os organismos de defesa da concorrência, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), deverão considerar a imposição de restrições pontuais para defender o direito dos consumidores e salvaguardar fornecedores das empresas. Essas medidas teriam o objetivo de reduzir o efeito da elevada concentração em alguns nichos do setor de alimentos, o que poderia levar à adoção de práticas abusivas de mercado.


Próximo Texto: Editoriais: Omissão e leniência

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.