São Paulo, sábado, 19 de agosto de 2006

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Prevenção feminina

Desafio na luta contra a Aids agora é dar à mulher meios para tomar a decisão de proteger-se sem anuência do homem

AOS POUCOS o mundo vai aprendendo a conviver com a Aids. Os números da epidemia são sombrios. De acordo com o mais recente relatório das Nações Unidas, há hoje no planeta 40 milhões de pessoas convivendo com o vírus HIV. Uma pessoa é infectada a cada dez segundos. A estimativa de mortes em conseqüência da doença em 2005 é de 3,1 milhões, sendo que a metade desses óbitos foi de crianças.
Nem tudo, entretanto, são más notícias. Ainda que muito mais lentamente que o desejável, países pobres estão recebendo as drogas anti-retrovirais, que conseguiram transformar a Aids, antes uma sentença de morte, em moléstia crônica. Globalmente, 25% dos doentes têm acesso ao coquetel anti-Aids.
Na América Latina, 68% dos pacientes que necessitam das drogas as recebem. Nos países pobres da Europa e da Ásia central, essa proporção é de 17%. Mesmo na África subsaariana -a região mais afetada da Terra-, essa cifra hoje é de 13%. Já não basta apenas despachar as drogas para lá. É preciso também ampliar e qualificar os sistemas de saúde da região para que os medicamentos possam ser prescritos, e os pacientes recebam acompanhamento.
As regiões em que a cobertura é menor -apenas 5%- são o norte da África e o Oriente Médio, onde uma prevalência relativamente baixa e fatores culturais levam governos a minimizar a gravidade da epidemia.
Diante desse quadro, as preocupações dos especialistas, que debatem a epidemia na 16ª Conferência Internacional de Aids, que ocorre em Toronto, voltam-se para a prevenção. O desafio, agora, é criar métodos que possibilitem à mulher tomar a decisão de prevenir-se. Os dois atualmente à disposição -abstinência e preservativos- exigem pelo menos a anuência do homem, o que coloca as mulheres numa posição mais vulnerável, fenômeno refletido nas estatísticas.
Estão em testes iniciativas promissoras. Uma delas é o gel antiviral que pode ser usado dentro da vagina e destrói o HIV antes de infectar a pessoa. O problema é que a proteção não deverá ser tão eficiente quanto a proporcionada pelo preservativo. Outra alternativa são as drogas profiláticas, concebidas destruir o vírus assim que entra em contato com o paciente. Devem ser utilizadas após eventos potencialmente infectantes, como relações sexuais sem proteção ou acidentes hospitalares com material perfurante.
A dificuldade é que, além de novos fármacos tenderem a ser mais caros, eles precisam chegar a lugares onde se vive com menos de um dólar por dia, onde uns poucos centavos já representam muito dinheiro.


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