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Prevenção feminina
Desafio na luta contra a Aids agora é dar à mulher meios para tomar a decisão de proteger-se sem anuência do homem
AOS POUCOS o mundo vai
aprendendo a conviver
com a Aids. Os números da epidemia são
sombrios. De acordo com o mais
recente relatório das Nações
Unidas, há hoje no planeta 40
milhões de pessoas convivendo
com o vírus HIV. Uma pessoa é
infectada a cada dez segundos. A
estimativa de mortes em conseqüência da doença em 2005 é de
3,1 milhões, sendo que a metade
desses óbitos foi de crianças.
Nem tudo, entretanto, são más
notícias. Ainda que muito mais
lentamente que o desejável, países pobres estão recebendo as
drogas anti-retrovirais, que conseguiram transformar a Aids, antes uma sentença de morte, em
moléstia crônica. Globalmente,
25% dos doentes têm acesso ao
coquetel anti-Aids.
Na América Latina, 68% dos
pacientes que necessitam das
drogas as recebem. Nos países
pobres da Europa e da Ásia central, essa proporção é de 17%.
Mesmo na África subsaariana -a
região mais afetada da Terra-,
essa cifra hoje é de 13%. Já não
basta apenas despachar as drogas para lá. É preciso também
ampliar e qualificar os sistemas
de saúde da região para que os
medicamentos possam ser prescritos, e os pacientes recebam
acompanhamento.
As regiões em que a cobertura
é menor -apenas 5%- são o
norte da África e o Oriente Médio, onde uma prevalência relativamente baixa e fatores culturais
levam governos a minimizar a
gravidade da epidemia.
Diante desse quadro, as preocupações dos especialistas, que
debatem a epidemia na 16ª Conferência Internacional de Aids,
que ocorre em Toronto, voltam-se para a prevenção. O desafio,
agora, é criar métodos que possibilitem à mulher tomar a decisão
de prevenir-se. Os dois atualmente à disposição -abstinência e preservativos- exigem pelo
menos a anuência do homem, o
que coloca as mulheres numa
posição mais vulnerável, fenômeno refletido nas estatísticas.
Estão em testes iniciativas
promissoras. Uma delas é o gel
antiviral que pode ser usado dentro da vagina e destrói o HIV antes de infectar a pessoa. O problema é que a proteção não deverá ser tão eficiente quanto a proporcionada pelo preservativo.
Outra alternativa são as drogas
profiláticas, concebidas destruir
o vírus assim que entra em contato com o paciente. Devem ser
utilizadas após eventos potencialmente infectantes, como relações sexuais sem proteção ou
acidentes hospitalares com material perfurante.
A dificuldade é que, além de
novos fármacos tenderem a ser
mais caros, eles precisam chegar
a lugares onde se vive com menos de um dólar por dia, onde
uns poucos centavos já representam muito dinheiro.
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