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CLÓVIS ROSSI
Previsões, o balão e a Apolo 11
SÃO PAULO - Por fim aparece um
economista com coragem e sinceridade suficiente para dizer que previsões sobre desempenho econômico são tão científicas quanto jogar
búzios ou ler a mão.
O economista em questão, Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do Santander Asset Management, prefere escrever
que "há uma nítida assimetria entre
nossa habilidade de explicar o passado e nossa capacidade de prever o
futuro" (artigo para o "Valor Econômico", ontem publicado).
Mosca vai muito além dessa frase
comedida: conta que as projeções
de mercado, reproduzidas no boletim "Focus" do Banco Central, erram feio sistematicamente.
Escreve Mosca: "Uma rápida
olhada na diferença entre as previsões feitas 12 meses atrás e os valores efetivamente observados para
essas variáveis [PIB, inflação, juros
reais e nominais e câmbio] revelam
erros significativos, entre 40% e
12%. Além disso, para juros nominais e reais, a média das expectativas dos especialistas foi incapaz sequer de prever a direção em que
elas iriam se deslocar" (os juros caíram, em vez de subir).
Atenção, não se trata de erro por
incompetência ou impossibilidade
real de adivinhar o futuro, adverte o
economista do Santander. Diz: "A
oportunidade de ganhos está em
antecipar o que os demais ainda
não veem (...) e em traduzir isso em
posicionamentos nos ativos certos,
na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam".
Traduzindo: apostam numa direção e fazem previsões para ajudar a
aposta a dar certo.
Sempre segundo Mosca: "Se a
Nasa precisasse contar com a precisão das previsões do boletim "Focus", o voo da Apolo 11 provavelmente não teria alcançado a altura
de um balão de festa junina".
Pois é. E nós, jornalistas, vamos
continuar a dizer, acriticamente,
que o balão de festa junina é uma
Apolo 11?
crossi@uol.com.br
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