São Paulo, sexta, 19 de setembro de 1997.



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Lula, o grilo e o SBT

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada anteontem, só reafirma que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é, faz uns dez anos, o primeiro candidato de 20% a 25% do eleitorado brasileiro.
Um patrimônio que cresce com as circunstâncias, mas não diminui. Basta-lhe para derrotar supostos ou reais campeões de voto, como Leonel Brizola, Paulo Maluf, Mário Covas, Orestes Quércia, Ulysses Guimarães etc.
Lula sobreviveu galhardamente até aos dois Fernandos que o venceram (o Collor de Mello e o Henrique Cardoso). A sobrevivência à segunda derrota dá relevância ao fenômeno Lula.
Desde que perdeu para FHC, faz praticamente três anos, Lula e o PT só foram capazes de produzir más notícias para eles próprios. Este ano, então, capricharam: desde a suspeita de maracutaias envolvendo o compadre de Lula até a guerra civil que faz o partido sangrar abundantemente.
Não obstante, o Datafolha coloca Lula no lugar em que sempre esteve. É provável que esse piso seja também o teto de Lula. Não importa. É o suficiente para dizer que Lula é o político brasileiro de maior popularidade intrínseca desde a redemocratização.
É verdade que, hoje, FHC é mais popular. Mas está evidente que a popularidade do presidente ancora-se em um vitorioso plano econômico.
Lula, ao contrário, só acumula derrotas no Fla-Flu eleitoral. Perdeu todas as três eleições majoritárias que disputou, incluindo a do governo paulista (1982).
Manter a preferência de 20% a 25% dos eleitores, nessas circunstâncias, é um patrimônio (que estou apenas quantificando, não qualificando).
Por isso, Lula não tem o direito de estiolar-se em uma oposição meramente ranheta, em continuar tentando ser o Grilo Falante de todos os Pinóquios que o PT enxerga em cada presidente, governador ou prefeito. Se o fizer, acabará sendo o SBT da política, eterna e orgulhosamente vice-campeão de audiência.





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