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POLÍTICA DEFENSIVA
O dólar subiu ontem para o
valor mais alto desde o anúncio do acordo com o FMI, há seis semanas. Muitos apontaram como
causa o receio de que o oposicionista
Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição, talvez já no primeiro turno. Mas
não foi só no Brasil que a tensão aumentou. As Bolsas internacionais
caíram sob o impacto de novos sinais de fraqueza dos balanços das
empresas e da atividade econômica
nos Estados Unidos e na União Européia. Isso também pesou para o
maior nervosismo no Brasil.
Esses dois fatores -a incerteza política e o ambiente externo adverso-
há meses mantêm o mercado financeiro tenso. O primeiro fator poderá
começar a ser definido em algumas
semanas, depois que a corrida presidencial estiver encerrada. Mas a incerteza internacional -reforçada
pela ameaça de guerra no Iraque-
não tem data para começar a se dissipar. A alta aversão global ao risco,
que contribui para a escassez de dólares no Brasil, pode persistir por um
bom tempo.
Em meio à turbulência de ontem, o
Copom manteve inalterada a taxa de
juros básica e descartou reduzi-la antes de sua próxima reunião, em 23 de
outubro. A decisão é compreensível e
sugere a percepção de que, circunstancialmente, o manejo da taxa de juros perdeu eficácia. Dados o fechamento do crédito externo e o nervosismo doméstico, aumentar a taxa
dificilmente atrairia dólares; reduzi-la poderia ser considerado voluntarismo, gerando desconfiança.
O crucial, hoje, é que o BC preserve
a sua margem de manobra -seja
para administrar as tensões do período de transição, seja para que o futuro governo possa assumir em condições sustentáveis. Para tanto, a chave
parece ser a manutenção de um "colchão" de reservas de dólares. Esse
cuidado pode ter o custo de limitar,
por algumas semanas, a capacidade
do BC de inibir as pressões sobre a
cotação do dólar. Mas seria temerário permitir que as reservas se aproximassem demais do nível mínimo
acordado com o FMI (US$ 5 bilhões), pois isso agravaria o potencial de instabilidade no início do próximo governo.
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