São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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POLÍTICA DEFENSIVA

O dólar subiu ontem para o valor mais alto desde o anúncio do acordo com o FMI, há seis semanas. Muitos apontaram como causa o receio de que o oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição, talvez já no primeiro turno. Mas não foi só no Brasil que a tensão aumentou. As Bolsas internacionais caíram sob o impacto de novos sinais de fraqueza dos balanços das empresas e da atividade econômica nos Estados Unidos e na União Européia. Isso também pesou para o maior nervosismo no Brasil.
Esses dois fatores -a incerteza política e o ambiente externo adverso- há meses mantêm o mercado financeiro tenso. O primeiro fator poderá começar a ser definido em algumas semanas, depois que a corrida presidencial estiver encerrada. Mas a incerteza internacional -reforçada pela ameaça de guerra no Iraque- não tem data para começar a se dissipar. A alta aversão global ao risco, que contribui para a escassez de dólares no Brasil, pode persistir por um bom tempo.
Em meio à turbulência de ontem, o Copom manteve inalterada a taxa de juros básica e descartou reduzi-la antes de sua próxima reunião, em 23 de outubro. A decisão é compreensível e sugere a percepção de que, circunstancialmente, o manejo da taxa de juros perdeu eficácia. Dados o fechamento do crédito externo e o nervosismo doméstico, aumentar a taxa dificilmente atrairia dólares; reduzi-la poderia ser considerado voluntarismo, gerando desconfiança.
O crucial, hoje, é que o BC preserve a sua margem de manobra -seja para administrar as tensões do período de transição, seja para que o futuro governo possa assumir em condições sustentáveis. Para tanto, a chave parece ser a manutenção de um "colchão" de reservas de dólares. Esse cuidado pode ter o custo de limitar, por algumas semanas, a capacidade do BC de inibir as pressões sobre a cotação do dólar. Mas seria temerário permitir que as reservas se aproximassem demais do nível mínimo acordado com o FMI (US$ 5 bilhões), pois isso agravaria o potencial de instabilidade no início do próximo governo.


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